quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Lago Vitória: exemplo da falta de conhecimento científico

A iniciativa da blogagem coletiva sobre o continente africano é louvável. Com seu histórico de super exploração e degradação ambiental, este continente merece atenção e maiores investimentos em pesquisa.

Um exemplo extremo de como a falta de conhecimento homem pode afetar negativamento um ecossistema seria o caso do Lago Vitória. Este é o segundo maior lago do mundo, com aproximadamente 68.800 Km² ( quase do tamanho da Irlanda), localizado na África oriental (Vale do Rift). Na década de 50, foi introduzido neste lago a espécie de peixe chamada perca do nilo (Lates niloticus). Esta espécie é um predador voraz e pode chegar a pesar 200 Kg. Esta introdução teve objetivo de aumentar o estoque pesqueiro deste lago (vide o peso que esse peixe pode atingir), além de incentivar o turismo, pois este peixe é caracterizado por ser esportivo (mais emoção na pescaria).

A partir deste momento, o pesadelo começou. A perca do nilo se alimenta de ciclídeos nativos do lago. Só que o problema é que ela se alimenta muito! Imagina o quanto ela tem que comer para chegar a 200 Kg? Deste modo, ela praticamente dizimou quase que todas as outras espécies de peixes do lago. Com isso, a dieta dos moradores que habitavam o entorno do lago ficou restringida a perca.

Vocês acham que os problemas acabaram? Não!!! Tem mais ainda! A perca possui alto teor de gordura na sua carne. Assim, o que é feito para a conservação de carnes deste tipo? Defumamos. Com isso, um novo problema é gerado. Houve um intenso desmatamento das florestas em volta do lago para queima de madeira e, assim, com a fumaça, a defumação da carne da perca. Olha o efeito em cascata.

Além disso, outro grave problema de saúde humana. Simplesmente, não perguntaram para os nativos do entorno do lago se eles apreciavam a carne deste peixe. E olhem só! Eles não gostavam! Preferiam as espécies dizimadas pela perca do nilo. Então o que aconteceu? Enorme pressão de caça sobre animais terrestres para suplementar a dieta destas pessoas. Assim, toda a carne de peixe produzida no lago era industrializada e exportada para países asiáticos.

Esse foi parte do problema de origem animal. Entretanto, ainda existe um de origem vegetal. Para fins estéticos (isso mesmo, estéticos) foi introduzida uma espécie de macrófita aquática chamada Eichhornia crassipes (originária daqui das Américas, comumente conhecida como aguapé). Esta macrófita flutuante teve um super crescimento devido a falta de predadores, além do crescente processo de eutrofização do lago. Ambos possibilitaram que este vegetal se tornasse uma praga e prejudicasse a navegabilidade no lago.

Atualmente, o lago Vitória sofre outra ameaça. Devido a construção de barragens para hidrelétricas em alguns rios de desagüam no lago, o nível d'água diminuiu por volta de 2 metros entre 2000-2006. Com isso, alguns alagadiços nas margens do lago secaram, causando a mortandade de juvenis de algumas espécies de peixe. Isto porque elas usavam estas áreas como berçário.

Bem, tentei aqui ilustrar como o homem pode afetar um ecossistema inteiro por falta de conhecimento. Neste caso é clara a importância do cientista (aqui, do Biólogo) para (em uma visão antropocêntrica) saúde humana e (numa visão mais justa) para a natureza no geral. Quando perguntam qual o valor de um médico, qualquer um sabe responder no exato momento. E agora, alguém tem dúvida de qual o valor do Biólogo? Mais claro que isso, IMPOSSÍVEL.

Para uma melhor visualização do estrago, assista o documentário "O pesadelo de Darwin". Ele foi indicado ao Oscar de melhor documentário em 2006 e ganhou outros 8 prêmios internacionais. A versão abaixo está com legenda em espanhol.



  • Primeira parte


  • Segunda parte

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