sábado, 1 de novembro de 2008

Aranhas boas de briga

Uma cidade do interior do japão chamada Kajiki é famosa em toda a região por receber um evento anual um pouco diferente. O Kumo Gassen é um campeonato onde pessoas de todas as idades se reúnem para literalmente colocar as aranhas para brigar. É uma tradição local onde vários dias antes os participantes buscam as aranhas mais fortes em áreas verdes da cidade. Neste tempo as aranhas são alimentadas de forma especial, com sua dieta tradicional à base de insetos e um suplemento de Shochu, uma espécie de estimulante feito a base de produtos naturais. Além da alimentação especial, as aranhas são "treinadas", participando de várias lutas antes do dia do campeonato. Os aracnídeos que participam do evento são do gênero Argiope. Elas são conhecidas pelo nome bem sugestivo de "Aranhas samurai".


Argiope bruennichii (I)
Aranha do gênero Argiope. Crédito: .Bambo.


A competição acontece da seguinte forma: duas aranhas são colocadas em um galho, sendo separadas pela mão de um juiz. Quando ele tira sua mão do galho, começa a luta. Sendo estas aranhas muito territorialistas, elas fazem de tudo para jogar a oponente para fora. São basicamente três regras: quem enrolar com teia, "morder" ou jogar seu oponete para fora do galho, ganha. Um comportamento bem comum e interessante é quando um das aranhas cai do galho e fica presa apenas por um fio de seda. Nesta situação su openente de forma bem calma segue até a base do fio e o corta, terminando a luta. Diferente das rinhas de galo no Brasil, quando o juiz percebe que há risco de vida para uma das aranhas a luta é interrompida imediatamente. Além disso, após o campeonato todas as aranhas são devolvidas ao ambiente.



Juiz acompanha atentamente o embate entre as aranhas. Crédito: M.Sekine


Conheci essa competição bizarra no National Geographic Channel. Segue abaixo o programa dividido em duas partes (em inglês).

Aranhas Samurais - Parte 1





Aranhas Samurais - Parte 2




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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Aquecimento Global: céticos 1 X 1 IPCC


Depois do artigo da PNAS questionando umas das principais premissas do IPCC, que as mudanças de temperatura causadas por fatores naturais teriam influência significativa no clima do nosso planeta, a discussão ganha um novo assalto. Para rever o assalto anterior, leia este post publicado aqui no blog. Agora, em um artigo publicado no periódico Nature Geoscience (uma pena, sem link do artigo. Queremos acesso a essa revista CAPES!), pesquisadores da universidade britânica de East Anglia afirmam que pela primeira vez na história foi confirmado, tanto no Ártico como na Antártica, a influência humana na elevação da temperatura. O último relatório do IPCC de 2007 dizia que a única região do mundo em que não haviam dados conclusivos sobre o aquecimento global era a Antártica.



Penílsula de Svalbard, Ártico. Crédito: Kenyai



O trabalho consistiu em comparações feitas entre séries de dados de temperaturas dos polos e dois modelos. Um que incluía a influência humana e o outro que incluía apenas fatores "naturais". O melhor ajuste dos dados ocorreu no modelo com a influência humana, sendo o principal argumento dos autores para a afirmação de que a influência do homem, principalmente devido a queima de conbustíveis fósseis, alterou de forma significativa a temperatura das regiões polares.

Em uma prévia do próximo assalto o Professor Phil Jones, diretor da Unidade de Pesquisa Climática da universidade de East Anglia, afirma que: "(...) eu ainda acho que existe um número de pessoas, incluindo políticos, que relutam em aceitar a evidência ou em fazer algo sobre isso, até nós chegarmos especificamente à escala menores, dizendo que um evento em particular foi causado por humanos como uma grave inundação em algum lugar ou uma onda de calor."

E não seria esse o nosso papel como cientistas meu caro Phill? Como Gould disse no seu livro "Pilares do Tempo", tudo bem que a história de São Tomé na bíblia tem um cunho moral interessante, mas nada mais científico do que "Ver pra crer".

Vi no BBC News.

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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Emissão de metano volta a aumentar depois de uma década de estabilidade



Bolhas de metano aprisionadas no gelo de um lago da Sibéria. Fonte: Eurekalert


O gás metano (CH4) apresenta um potencial estufa 20 vezes maior que o gás carbônico e sua concentração na atmosfera dobrou desde a revolução industrial. Mesmo assim, a concentração de CH4 apresentou uma relativa estabilidade nos últimos anos, indicando certo balanço entre a taxa de emissão e a taxa de degradação do gás metano na atmosfera. Mas no início de 2007, este balanço foi alterado.

Segundo Matthew Rigby, um dos autores do artigo intitulado "Renewed growth of atmospheric methane" publicado no periódico Geophysical Research Letters, a descoberta foi uma surpresa e mostra como nós não entendemos o ciclo natural do metano. Outra informação interessante é que este aumento na emissão de metano aconteceu de forma simultânea em todo o mundo, o que foi uma surpresa para os pesquisadores. Os autores do trabalho esperavam um aumento no hemisfério norte devido a elevação da temperatura na Sibéria (e conseqüente maiores taxas de metanogênese nas áreas alagadas desta região). O aumento no hemisfério sul continua sendo uma incógnita. Uma hipótese alternativa é de que este aumento em 2007 ocorreu devido à diminuição de radicais livres (hidroxil), que degradam o metano na atmosfera. Mas esta hipótese ainda precisa de mais estudos para ser melhor embasada.

A concentração de metano era de 700 ppb (partes por bilhão) antes da revolução industrial e aumentou de forma gradual até 1773 ppb no final do século 20. Segundo Ronald Prinn, outro autor do artigo, o aumento em 2007 foi de aproximadamente 10 ppb, sendo significativo neste curto período. De forma sensata, ambos os autores afirmam que é muito cedo para dizer se este aumento representa uma volta ao crescimento regular da concentração de metano na atmosfera nos últimos séculos ou se foi apenas uma anomalia. De qualquer forma, nunca é demais investir mais esforços nesta área ainda pouco conhecida da biogeoquímica.

Fonte: ScienceDaily e NewScientist

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quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Mais sobre o NF3 (Trifluoreto de Nitrogênio)


Como discutido aqui anteriormente, O NF3 foi caracterizado como um potente gás estufa. Este gás é usado na fabricação de Tv's e monitores de tela plana (Plasma e LCD). O NF3 é de 12.000 a 20.000 vezes mais eficiente na retenção de calor do que o CO2. O pesquisador Michael Prather foi o pioneiro no alerta sobre a elevação da concentração deste gás na atmosfera.


Imagina quando a maioria tiver acesso a uma dessas


Análises atmosféricas feitas em estações afastadas dos grandes focos de poluição, indicaram que as concentrações atmosféricas deste gás aumentaram por volta de 20 vezes nas últimas três décadas. A concentração que antes era de 0,020 partes por trilhão (ppt) aumentou para 0,454 ppt. Sendo que a grande parte das emissões é do hemisfério norte. Em 2006 estimava-se que houvesse 4.200 toneladas deste gás na atmosfera, hoje acredita-se que esteja por volta de 5.400 toneladas. Tendo um alto potencial estufa e uma meia-vida de 740 anos, sua concentração equivale a 67 milhões de toneladas de CO2.

É claro que os grandes magnatas industriais estão tentando de todas as maneiras abafar estes estudos, ou até mesmo desmerecer este tipo de pesquisa. Realmente, não esperaria outro tipo de comportamento. Este é só mais um exemplo da ganância de alguns, em detrimento da evolução do conhecimento científico.

"Industries were quite dismissive of Michael Prather's original paper as pure speculation".
Piers Forster
(outro importante químico atmosférico da Universidade de Ledds )


Neste contexto, já existe um movimento de pesquisadores propondo a inclusão do NF3 na lista de gases estufas regulamentados. Sendo assim, sua produção e emissão serão avaliadas e controladas. Além de inclusão deste gás nos modelos de mudanças climáticas.

Fonte: Nature News

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terça-feira, 28 de outubro de 2008

A intrigante e controversa história do oxigênio atmosférico

Uma das mais intrigantes discussões científicas dos últimos anos esteve focada em quando e como ocorreu a alteração de uma atmosfera praticamente anóxica para uma formada por 21% de oxigênio. Pensar em um tempo geológico em que este gás praticamente não estava presente é um exercício fascinante. Uma fração considerável da vida (excluindo parte das bactérias, que podem tirar energia de praticamente tudo) precisa oxidar a matéria orgânica com o oxigênio para obter energia. Sendo assim, sem a presença de oxigênio na atmosfera, boa parte da vida pluricelular como conhecemos hoje seria inviável.

Bilhões de anos depois desta fase anóxica do nosso planeta, o oxigênio se tornou o segundo gás mais abundante da Terra, perdendo apenas para o nitrogênio. A hipótese mais aceita para este fato hoje em dia é que há mais de 2 bilhões de anos atrás, apenas um grupo de bactérias realizava o processo de oxidação fotobiológica da água (o mecanismo e a evolução deste processos ainda são desconhecidos). Esta bactéria teria sido incorporada por outra célula formando o organismo progenitor de todos os eucariotos fotossintetizantes atuais (desde algas até árvores), segundo a teoria endossimbiótica. Estes organismos passaram a fixar carbono e liberar oxigênio em uma atmosfera bem diferente da atual, alterando de forma marcante a composição desta camada. Um ótimo artigo da Science que saiu na semana passada descreve isso com detalhes. Mas quando isto aconteceu? Foi de forma gradual? Se o "gatilho" da alteração da composição de gases da atmosfera é controverso, em que momento isto ocorreu também não fica atrás.


Linha do tempo de eventos ligados a história do oxigênio na Terra. Fonte: Nature


Cianobactérias são os mais antigos organismos fotossintetizantes do nosso planeta, e ainda persistem até hoje. Como podemos ver na figura acima, existem duas evidências conflitantes sobre em que ponto a fotossíntese (e as cianobactérias) teriam evoluído. Análises de biomarcadores mostram evidências de cianobactérias e eucariotos ("fósseis moleculares" na figura) datados de aproximadamente 2,7 bilhões de anos atrás. Um dado bem confiável mostra que houve um aumento significativo na concentração de oxigênio na atmosfera terrestre há 2,4 bilhões de anos atrás. O que teria acontecido para haver este atraso de quase 300 milhões de anos desde o aparecimento dos organismos fotossintetizantes até o chamado "grande evento oxidativo"? Várias hipóteses foram formuladas na tentativa de explicar este "lag", mas uma realmente mais simples estava por vir.



"Reavaliando a primeira aparição de eucariotos e cianobactérias". Fonte: nature


Rasmussen e colaboradores relatam no periódico Nature da última semana que não há nenhum enigma a ser descoberto. Eles defendem que, devido a um erro de coleta de dados, a análise realizada a quase 10 anos atrás que datava em 2,7 milhões de anos o aparecimento das cianobactérias teve um erro "pequeno", de quase 600 milhões de anos. O mais interessante deste caso é que Jochen Brocks, primeiro autor do trabalho refutado, é um dos autores deste novo artigo. Ele afirma que sempre foi cético em relação à análise original, criticando sua metodologia. O artigo mais recente utiliza um aprimoramento do método usado por Brocks, sendo muito mais preciso.

Para completar a discussão, os co-autores do artigo original de Brocks de 1999 criticaram o mais novo artigo da Nature, dizendo que eles não levaram em consideração trabalhos mais recentes que refinaram os dados retirados do mesmo local de coleta. Outros cientistas ainda ressaltaram que alguns estudos com estromatólitos (estruturas formadas em corpos aquáticos rasos por bactérias fotossintetizantes) de 2,7 bilhões de anos de idade podem colocar ainda mais lenha na fogueira. Estes comprovariam que organismos fotossintetizantes poderiam ter aparecido milhões de anos antes do grande evento oxidativo, levando toda a discussão novamente para o grande "lag".

Sendo assim, a verdadeira história do principal aceptor de elétrons do nosso planeta está longe de ser contada. Aguarde o próximo capítulo.

Referências:

Brocks, J. J. et al. Archean Molecular Fossils and the Early Rise of Eukaryotes. Science 285, 1033-1036 (1999)
Fischer, W. W. Life before the rise of oxygen. Nature 455, 1051-1052 (2008)
Rasmussen, B., Fletcher, I. R., Brocks, J. J. & Kilburn, M. R. Reassessing the first appearance of eukaryotes and cyanobacteria. Nature 455, 1101–1104 (2008)
Falkowski, P. G. & Isozaki, Y. The story of O2. Science 322, 540-542 (2008)
Kump, L. R. The rise of atmospheric oxygen. Nature 451, 277-278 (2008)


domingo, 26 de outubro de 2008

Crítica ao "consenso" científico


consenso


con.sen.so
sm (lat consensu) 1 Anuência, consentimento. 2 Acordo.


Para mim, a união das palavras "consenso" e "ciência" é muito difícil. Concordo com o João, do Crônica da Ciência, que um consenso científico seria "(..) um conjunto de teorias ou teoria que a maioria de cientistas de uma determinada área suporta como sendo as melhores nessa mesma área, num dado momento". O problema neste caso, está relacionado a como este "consenso" é transmitido para o público geral. Sendo assim, toda e qualquer notícia relacionada a estudos científicos deve ser encarada não como uma verdade absoluta, mas como um argumento, uma idéia, que pode ser mais ou menos plausível, dependendo do caso.

Como já falei aqui no blog, um pesquisador grego revelou este ano que um terço de estudos publicados em periódicos como Science e Nature foram refutados por outros estudos em uma pequena escala de tempo. Notícia bombástica? Não. Apenas uma mensuração de como o "consenso" científico é algo mutável. A menos de duas semanas atrás, o periódico de grande prestígio PNAS publicou um artigo que coloca esta discussão em um novo patamar. Umas das mais importantes premissas do IPCC foi questionada, mostrando que nem um dos maiores "consensos científicos" atuais pode ficar isento de críticas.


"Um papel para o CO2 atmosférico em uma forçante climática pré-industrial". Fonte: PNAS


Este artigo mostra dados baseados em análise de freqüência estomatal em fósseis de plantas. Há uma relação inversa entre número de estômatos presentes nas folhas em fase de crescimento e a concentração de CO2 atmosférico da época em que elas estavam vivas. Segundo os autores, a variação da concentração de CO2 na atmosfera no último milênio apresentou uma variação significativa (34 ppm), três vezes maior do que o último relatório do IPCC de 2007 defendia (12 ppm). Como foi uma variação que ocorreu em um período pré-industrial, esse valor ser significativo seria um indício que mudanças consideradas "naturais" poderiam ser relevantes na concentração de CO2 atmosférica. O último relatório do IPCC argumentava que esta variação era muito pequena, portanto não significativa. O artigo na PNAS argumenta que a emissão de CO2 causada por fatores considerados "naturais" podem equivaler a 30% do aumento na concentração de CO2 causado por seres humanos, fato que está longe de ser não significativo.

Quebra de paradigma? Ainda não sabemos. O IPCC baseia grande parte de seus dados de concentração de CO2 em registros de cores de gelo, sendo uma metodologia bem diferente do artigo na PNAS. Esta é parte emocionante da ciência. Nem Darwin está imune à críticas, como diria Carl Woese.