quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Darwin estava certo

Bem, parece que não fui só eu que fiquei decepcionado com a capa da revista de divulgação científica americana New Scientist sobre Darwin. O filósofo Daniel Dennett, o biólogo Richard Dawkins e dois outros autores também não gostaram nem um pouco de ver em uma revista de grande circulação internacional da frase "Darwin estava errado". Eles demostraram esta decepção em uma carta publicada na última semana pela mesma revista. Para entender melhor o problema, leia o meu post comentando o deserviço prestado pela capa infeliz da New Scientist.

Eles começam de forma bem forte: "O que vocês estavam pensando quando produziram uma capa gritante proclamando que 'Darwin estava errado'?". Os argumentos da carta são bem parecidos com a minha reclamação. Além de ser uma afirmação falsa, ela é sensacionalista. Não acrescenta em nada o que já era conhecido. As ferramentas recentes da biologia molecular não invalidam a idéia da árvore da vida. Ela aumenta a complexidade da árvore e a transferência horizontal em eucariotos ainda é um assunto muito polêmico para se tornar um fato consumado. É claro que dar a faca e o queijo na mão dos criacionistas não poderia ser esquecido nesta carta inflamada. Segundo os autores, "(...) horas depois da publicação, membros da secretaria de educação do Texas estavam citando o artigo como a evidência que os professores precisavam para ensinar 'fraquesas da evolução' inspiradas em criacionismo (...)".

Para terminar, Dennett, Dawkins e colaboradores reafirmam a infelicidade da última edição da New Scientist: "Vocês deram muito trabalho extra, desagradável para os cientistas cujo trabalho vocês deveriam estar explicando para público geral. Todos nós agora devemos tentar corrigir todo o mal-entendido que sua capa produziu".

Assino embaixo.

10 comentários:

  1. Talvez os responsaveis pela revista deveriam pensar em investir menos em publicidade e mais em conteudo.

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  2. Acho que eles podem investir em publicidade, mas não em publicidade travestida de ciência.

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  3. Oi, é a 1° vez que passo aqui e achei seu texto muito interessante e bem redigido!
    Concordo com voce, sou uma grande admiradora do Darwin, pois ja li muitos artigos do/sobre ele. Esses dias estava vendo tv e achei um especial muito legal sobre darwin, se voce quiser ver ou saber mais nesse site tem as informaçoes: http://mais.uol.com.br/view/8zedvdipch98/especial-mas-de-darwin-04023468D8916326?types=A&
    .Valeu!

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  4. Oi bia,

    Obrigado pela visita e pelo elogia. A série de programas do natgeo é realmente interessante, bem diferente dos programas da Globo News sobre darwin. Eu já comentei sobre eles aqui: http://discutindoecologia.blogspot.com/2009/01/como-nao-ensinar-selecao-natural-para.html

    Para conhecer um pouco mais sobre o que eu e Breno já escrevemos, leia os "posts mais inspirados", na barra lateral. Lá você também vai encontrar a indicação de outros blogs de ciência.

    Abraços e volte sempre.

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  5. Uma capa "Darwin estava errado" vende muito mais do que "Darwin estava certo". A primeira irá atrair críticos do evolucionismo, criacionistas atuantes, detratores, Arnaldo Jabores da vida, etc. A segunda não vai atrair ninguém, a não ser quem já se interessa pelo assunto (ou nem esses)...
    Essa é a lógica da publicidade e da divulgação no mundo. Não importa o que se discute mas o quanto isso render. Guardadas as proporções, entra aí também a discussão sobre blogs de ciência: eles devem visar lucro? Devem apresentar postagens "chamativas" para atrair potenciais presas... digo, leitores?

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  6. Grande questão Charles.

    Ficamos na seguinte situação: quando queremos fazer divulgação científica, queremos que nosso texto chegue ao maior número de pessoas possível. Para isso, muitos acham que devemos falar a linguagem da maioria de nossos leitores, fazendo texto direcionados a eles. Assim criamos um público cativo, mas que não ganha nada em conteúdo, mas consome. Clicará em nossos links do google, do submarino, etc. Queremos isso? Será que a programação dos grandes canais de televisão é ruim porque os profissionais são ruins ou porque a programação foi moldada pelo mercado (audiência)? Será que um programa especial da globo em horário nobre sobre a vida de Darwin daria audiência?

    Coloco um exemplo. Um canal de televisão como discovery channel ou outro do tipo. Teoricamente a ideia de um canal em televisão a cabo é ter menos pressão da audiência e passar um conteúdo de nicho, com mais qualidade. O que acontece? A mesma coisa de canais abertos. Mas ao invés de passar apenas conteúdo ruim 24h por dia como nos canais abertos, eles passam muito conteúdo pseudocientífico (UFOs, meioambiente, espíritos, etc) e alguns programas curtos que poderiam ser interessante. Mesmo não tendo uma pressão tão forte da audiência como em canais abertos, o conteúdo não tem uma qualidade ideal.

    Volto a sua pergunta. Queremos isso para os nossos blogs ? Temos a ferramenta ideal, onde não estamos submetidos a ditadura da maioria dos canais de televisão. Publicação fácil de textos, alcance quase ilimitado. Não havia pensado muito neste tema, mas creio que o lucro com blogs (através de propaganda) pode ser a morte prematura de uma ótima ideia. Não em blogs em geral, que visam apenas o maior acesso e grana. Mas em blogs que visam o conteúdo, como os "blogs de ciência".

    Saída para este problema? Talvez a fuga. Retirar as propagandas. Não precisamos fugir de temas da moda, desde que façamos a nossa versão dos fatos. Falo muito de aquecimento global, mas porque trabalho com este tema. Acho que isso é o nosso papel também, mostrar o que aparece de forma distorcida pela mídia.

    Quanto ao problema do direcionamento do conteúdo, acho que devemos tentar seguir o caminho do meio. Tentar colocar sim conteúdo, mas de forma mais palatável. Como já discutimos anteriormente, não adianta desenvolvermos um assunto muito complexo de forma mais acadêmica, assustando os leitores.

    Vamos subir no ombro de gigantes. O que Gould, Dawkins, Mayr, Wilson, Sagan e outros tem em comum? Eles todos escrevem muito bem, mas o diferencial está em como abordar o assunto. Explorar o lado maravilhoso da ciência em geral. Mostrar como o mundo pode ser explicado de forma muito mais interessante por leis naturais e não divinas. Cada autor usa conteúdo de sua área de atuação (a qual eles tem muito conhecimento) e tentam passar de forma a conquistar os leitores.

    Devemos explorar o que nos levou a gostar de ciência e tentar passar isto para os leitores? Será este o caminho?

    Devaneios...

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  7. PS.: Acabo de fazer um adsensecídio.

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  8. Luiz,
    Concordo contigo. Retirar as propagandas pode ser um começo de solução, senão prática, pelo menos ideológica. Talvez alguns pretendam ganhar dinheiro com blogs de ciência - eu não.
    Também não devemos seguir a lógica do mercado, mas sim construirmos um público cativo com base em algum diferencial de conteúdo e forma, não nos ditames da mídia. Temas da moda, se bem tratados, podem estimular o interesse e instigar o leitor a procurar mais a respeito. É preciso uma visão particular do assunto, no entanto. No último mês, apareceram centenas de comentários sobre Darwin, muitos absolutamente desnecessários, outros apenas copy-and-paste, poucos discutindo aspectos relevantes ou diferenciados sobre ele. Outros temas sofrem ainda mais com isso, pois estão na intersecção de áreas distintas, como o citado aquecimento global. Todo mundo acha que tem algo a contribuir sobre isso, o que não é necessariamente verdade.
    É preciso ficar claro, como você bem pontuou, que se o objetivo do blog é divulgação, não adianta apenas postar a tradução do último artigo do autor sobre a epistemologia da sistemática no século XX. Temos que trabalhar o conteúdo de forma lúdica, sem deturpações. Os autores que você mencionou são, no geral, exemplares nesse quesito. Um ponto que a Água levantou no seu blog é que os blogueiros de ciência muitas vezes deixam de utilizar as ferramentas disponíveis, como hyperlinks, que podem dar uma cara menos hermética às postagens (mas também podem estimular o leitor a se perder em meio à tonelada de informações disponível).
    O penúltimo parágrafo do seu último comentário é a síntese perfeita de uma possível bandeira a ser levantada pelos blogs de ciência: explorar o que nos levou a seguir esse caminho, a procurar respostas que sejam mais complexas e completas do que "porque está escrito assim", a nos sentirmos maravilhados perante um inseto, um céu estrelado, a chuva... sem escrevermos "uma frase verdadeira", como disse Ernest Hermingway, não conseguiremos divulgar essa extraordinária visão de mundo...

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  9. ...Luiz, seu termo "conteúdo palatável" é brilhante... divulgação científica em forma de "ciência palatável" é um caminho que deve gerar frutos, creio eu 'cá com meus botões'...

    Sobre os Ad*s, francamente, não é o que um leitor de blogs de ciencia procura... ao me deparar com isso em blogs do tipo, meu curso automático é não voltar. .. Aliás, eu achei um jeito até de bloquear os Ads do email do yahoo, tamanho meu desprezo por esse lixo "spâmico". ..e no geral, só volto a sítios que não tenham ou tenham o mínimo dessas pragas, as quais bloqueio nos sítios que gosto de acessar, via plugins (fica um espaço onde haveria o banner).

    Enfim... como provavelmente minha atitude é contra-maré, esta opinião não deverá fazer diferença... ...A propósito, hoje é meu primeiro acesso a este blog, uma boa surpresa... ganhaste mais um leitor.

    Sds,

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  10. Fala Alex,

    Valeu pela visita e, principalmente, pelos comentários. Não consigo ver um post como completo quando não tenho comentários. Faça uma visita aos blogs que eu indico na barra lateral. Com certeza você irá encontrar pessoas que pensam como você e eu.

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