quinta-feira, 19 de março de 2009

Pós-graduação para quê?

Passei seis anos da minha vida dedicados a academia. Iniciação científica, mestrado e um doutorado engatilhado. Porém entre o doutorado e o mestrado, tive um ano para repensar minha vida. Diferente dos anos anteriores onde fui emendando uma coisa na outra,  a onda acadêmica me levava.

Para que eu faria um doutorado? Prazer, realização pessoal, orgulho, gostar de ciência… tudo isso eram atrativos. Porém, toda hora me vinha a cabeça o tempo entre o mestrado e doutorado que fiquei sem bolsa. Me encontrei no limbo, sem contato nenhum fora da universidade e sem possibilidade de ganhar dinheiro dentro dela. E foi nessa situação de extrema tristeza e desilusão que tomei algumas atitudes para minha nova vida.

Isto mesmo, como na alegoria da caverna de Platão. Um mundo de sombras. A sombra da publicação, a sombra da pressão do seu programa de pós-graduação, a sombra do seu orientador, entre outras. É… o mundo de ilusão da universidade é muito sedutor. Professores com egos inflados, viajando pelo mundo (e de graça! Como vocês sabem a universidade sempre libera verba para esses “congressos”). Eu admirava isso. Toda essa politicagem dentro dos institutos. Estava cercado de Pseudo-Deuses.

Sempre imaginei: “Poxa, me formei numa universidade ótima, tenho mestrado nessa mesma universidade, arrumo emprego quando quiser…” Nem preciso dizer que quebrei a cara. O mundo real é diferente, as coisas são bem mais difíceis! Os contatos são muito importantes. Por sorte, acabei conseguindo trabalho alguns meses depois. Hoje, leciono em dois colégios. Mas, trabalhar como biólogo ainda não consegui.

Nesse momento, me pergunto: E se eu tivesse um doutorado? Bem, na minha humilde opinião, seria a mesma situação, só que 4 anos a mais na falta de experiência no mercado. Qual o futuro de um Doutor no Brasil? Se não for para ser professor de Universidade ou em um raro centro de pesquisa, acho que só vale de pontos a mais um uma possível prova de título em um concurso público. Nosso país precisa absorver esses pós-graduados. Não podemos ter a profissão de pesquisadores? Nosso país gera tanta tecnologia assim para a quantidade de doutores e mestres que produzimos? Ou será que estamos formando uma massa de desempregados super qualificados? Qual o futuro de um doutor? Pós doutorado atrás de pós doutorado para ter uma bolsa?

Um doutor não pode nem financiar um carro no nome dele. Ele não tem comprovante de renda! É um absurdo! Temos prazo de validade, esse prazo é a data do término da bolsa! Ou quem sabe, te pasteurizam de novo e prolongam essa prazo por mais 2 anos.

É nesse contexto que vemos as notícias de fraude de dados se ampliando cada vez mais. É a pressão para sermos os melhores do mundo, temos que publicar em revistas internacionais. Fazer ciência para o Brasil e publicar para gringos. Tenho certeza que o número de pessoas que leram os trabalhos que participei como um dos autores é ínfimo diante das pessoas que já leram o que escrevi nesse blog.

Mas aonde quero chegar? Acredito que é vital que o Brasil crie instituições para absorver todos estes cientistas altamente qualificados. Pois, ou os perderemos para o exterior ou não vão trabalhar na área que foram altamente capacitados a trabalhar (investimento de milhares de reais no lixo). Ou se não, teremos que abrir 1 milhão de universidades para ter vaga para tanto professor!

Bem, essa é minha humilde opinião. E que venham as críticas…rs

11 comentários:

  1. Muito triste, mas é a mais pura verdade. Sem contar que as bolsas são irrisórias. É vergonhoso um quase doutor, figura de status tão grande, ganhar tão pouco. Tenho amigos que, sem ensino superior, apenas com curso técnico, ganham o equivalente a uma bolsa de doutorado. E sem ter que estudar mais 10 anos. E tudo isso para que? Temos uma formação excelente, nos preocupamos com conceito CAPES, índice H, número de artigos, entre outros números, que só valem dentro da torre de marfim.
    No mundo real não significam nada. E perceber isso já quase aos 30 anos, muitas vezes ainda morando com os pais, com poucas perspectivas de emprego, é um choque. Infelizmente no nosso país a educação (e a ciência, por consequência) não sao valorizados. Isso tem me levado a pensar muito seriamente em investir ou não no doutorado. Pra quem quer qualquer coisa que não seja ser professor de universade pública, talvez valha pouco a pena...

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  2. caramba mlk,... apavorou! otimo texto! tenho as mesmas duvidas, penso a mesma coisa.

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  3. Um dos motivos que me fizeram nao fazer mestrado logo depois da graduacao foi exatamente esse.
    A vida de pós-graduando é muito boa, ganha-se mal, mas é bem mais sossegada do q de qq pessoa no mercado de trabalho. O Brasil precisa sim desses doutores, só nao sabe ainda disso, pra variar...

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  4. Nooossaa! Achava q só eu era meio desesperada com essa história de seguir na área acadêmica, vc tem as mesmas dúvidas que eu. Eu ainda to na graduação, mas me desiludi com a carreira acadêmica, faço biologia na Unifesp e estágio na Usp e não sei se é assim em outras faculdades, mas a galera só pensa em publicar, e isso me desmotivou muito, percebi que o resultado do seu trabalho depende de onde vc publica, e não o contrário. Um resultado legal não leva, necessariamente, a uma boa publicação. Enfim, concordo em partes com a Claudia qdo ela diz q a pós é bem mais sussa q outros empregos, nós não temos horário fixo, mas isso não qr dizer q não trabalhamos mto, já vi vários amigos passar semanas inteiras mofando nos labs, chegando cedo e saindo 1h da madruga... realmente é de se pensar mto se vale a pena continuar, eu continuo na dúvida...

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  5. Olá Breno!
    Já tive essas mesmas angústias há um tempo atrás. Como meus pais não tinham condições financeiras de me sustentar enquanto eu fazia mestrado e eu não tinha bolsa (eu fazia parte da primeira turma do programa, nesses casos a escassez de bolsas é ainda maior); acabei tomando a decisão de abandonar o mestrado e partir para o mercado de trabalho. Não me arrependo da minha decisão, pois graças a ela hoje tenho coisas que com certeza ainda não teria se estivesse nesse eterno limbo da vida acadêmica. Hoje tenho intenção de voltar a fazer o mestrado, mas agora a situação é outra, já tenho emprego e estabilidade, pois passei em um concurso de professora em meu estado. Mas no doc, com certeza, nem penso! Boa sorte pra você, espero que consiga resolver da melhor forma esse impasse.

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  6. Colegaaaaaaaa... bem vindo ao clube, fiz mestrado, mas acho q não encaro um doutorado, muito trabalho estresse para pouco reconhecimento!

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  7. Caro Breno e comentaristas. "Ser ou não ser, eis a questão". Não há dúvidas que seu blog é mais lido que seus trabalhos. Um trabalho que publiquei tempos atrás na ecological modelling teve 8 citações, o que está acima da média do índice de impacto desta importante revista. Mas ano passado escrevi um texto na Revista Bula sobre Lamarck (depois foi para o blog) e ele foi acessado comprovadamente por 5098 pessoas. O Bafana recebe 1000 visitas/dia, 250 ficam mais de 2 minutos. Beleza, meu índice H de divulgação é bom, mas isto não é "fazer ciência". É fazer divulgação, claro, mas não ciência. O que é mais importante? Ninguém sabe, ambas são. Cada um deve fazer bem o que sabe e se esforçar mais para fazer o que não sabe muito bem. É trabalho diário. O E. Wilson disse na autobiografia sobre sua carga de trabalho semanal: 40 horas para aulas e burocracia, 20 para uma pesquisa boa e mais 20 para uma pesquisa realmente importante. Isto é, ele trabalha 16 horas/dia, 5 dias na semana. Tu aguentas, isto? Eu não. Tenho mulher e blog pra cuidar. Bom, mas compensa fazer doutorado? Porra, claro que sim. Rapaz, se você tem bolsa, te pagam pra estudar num país de analfabetos funcionais! Isto é o máximo. Meus pais só fizeram o primário e eu tenho pós-doutorado! Cara, você pode não acreditar, mas a "Pollyanna" aqui tem de dizer: este país permitiu que um neto de analfabeto virasse pós-doutor. E olha que nem sou lá talentoso, só esforçado mesmo...Quanto a pressão para publicação, meninos, a coisa só vai piorar. Mas um jogador de futebol também é pressionado, por isto existem, a seleção, a 1a divisão, a segundona, etc...Se você não é craque e não aguenta a pressão, faça como eu, jogue honestamente num time mais fraco, sempre de olho em bons exemplos e sem deixar, jamais, de suar sua camisa. Bola pra frente pessoal. Reconhecimento é só pra quem sai na Caras, o resto é bobagem. Ótimo post. Abr

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  8. Olá Breno,

    Concordo contigo, a pós graduação não é sinônimo de boas posições profissionais e o nosso país ainda precisa evoluir e investir proporcionalmente muito mais na área de ciência é tecnologia. Sem dúvida, investimento em ciência é PREMISSA para qualquer país q almeje um minimo de desenvolvimento social.

    Ao mesmo tempo proponho uma outra reflexão.............Se ganha tão pouco assim nestas bolsas? Um país q possibilita uma bolsa para estudar, uma via concreta de promoção social efetiva em um mundo de analfabetos, desempregados e desqualificados não é algo a ser considerado?? Claro que é fundamental lutar pela sua melhoria e ampliação, mas não a partir de sua pura desqualificação!!

    Não estamos perdendo a referencia?? A ciência tem egos inflados, corrupção e falta de ética...........Opa?! É só a ciência?? Temos q ter muito cuidado para que os discursos sobre vicios de notório e AMPLA disseminação na nossa sociadadde sejam usados não de maneira construtiva no sentido de melhorar, mas como simples artefato da classe dominante para extinguir avanços sociais inegáveis em áreas específicas!!

    Sim..............sem dúvida uma reflexão é necessária! O limiar entre a demagogia e o aumento das desigualdades é muito tênue. Proporcionar a reunião da comunidade científica em congressos é um investimento que deve ser valorizado, uma conquista de anos de toda a sociedade. Obviamente, abusos devem ser ferozmente combatidos e duramente castigados, mas daí a generalizar como desculpa para desvalorizar a sua notória importancia é uma temeridade...

    Com certeza, um blog tem muito mais público que uma revista científica especializada....olha eu aqui mesmo!! Sem dúvida, como o próprio nome diz: revista ESPECIALIZADA......existem poucos especilistas!! Nestas revistas, não se tem o reconhecimento entre muitos, mas simplesmente a discussão entre pares (de novo, q são poucos!!) antes de tornar uma informação científica passível de uso pela sociedade.............Somente em uma outra etapa, em OUTRO NICHO(!!), a informação poderia ser captada e divuilgada pelos canais de divulgação científica como este aqui. Se queremos audiência seria mais apropriado buscar a midia...

    E nesse momento me vem a pergunta: E se tivesse doutorado?? e se tivesse a melhor qualificação na melhor universidade do mundo?? E se tivesse bolsas altíssimas ?? Pois bem, se tivesse tudo isso............não bastaria e não significaria necessriamente sucesso profissional...

    O ponto da minha reflexão é muito simples.
    Olhar para fora é tão importante qto olhar para dentro. A felicidade possui tanto elementos objetivos qto subjetivos e como tal, perpassa por empenho e pela busca de trabalhos que realmente proporcionem prazer e satisfação a quem o faz. Longe de verdades absolutas em um campo tão complexo, deixo somente uma pergunta: Estamos fazendo esta nossa parte?

    Breno, parabéns pelo blog excepcional e empolgantes discussões q só contribuem à divulgação e aprimoramento construtivo da ciência.

    Abraços,
    Humberto Marotta

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  9. Bom, antes de tudo, gostaria de agradecer pelos comentários. Imaginei mesmo que fosse um assunto polêmico.
    Outra coisa importante, essa é a minha visão. E, não é uma visão de alguém distante. Muitas questões foram lançadas. Primeiro, não tenho dúvidas que é um privilégio ganhar dinheiro estudando. Com certeza somos sortudos, somos pontos fora da reta da realidade do Brasil. Porém, não acho que isso é um argumento para achar que é a melhor coisa do mundo, que não existem problemas. Tanto no valor, quanto na duração da bolsa.
    Mas não queria que esse fosse o foco. Na minha concepção não é. O problema é institucional. É isso que me faz repensar minha vida acadêmica. Por exemplo, quanto as punições aos abusos com dinheiro público, não conheço caso de alguém punido, mas milhares são os casos de abuso. Todos nós conhecemos um.
    Pode parecer que estou reclamando de barriga cheia, quando o prof. Ronaldo diz que o Brasil proporcionou um filho de analfabeto ser professor universitário. Realmente, é uma história de vida louvável (realmente fico admirado). Mas do mesmo jeito que algo pouco provável de acontecer, ser um professor universitário (mesmo nascendo e berço de ouro) é algo complicado. Todos nós sabemos como são organizados os concursos para professores de universidades públicas... É um reflexo do Brasil, reclamamos dos nossos políticos mas quando nós nos damos bem com a "peixada" a história é outra.
    Não discordo, nossa pós graduação é um reflexo da nossa sociedade, como tantas outras instituições. Como quero um Brasil diferente em vários campos, não sei se consigo ser participante de algo que vai de encontro com todas minhas posições diante de nossa realidade.
    Não sei o que aparenta, não estou "cuspindo no prato que comi" porém não posso fechar meus olhos diante de alguns fatos. Sei que ficando é que conseguiria ajudar na mudança, mas tenho que pensar no meu futuro. E na minha cabeça, o meu futuro se encontra longe do cargo de professor de universidade pública.
    Outra coisa importante, é claro que uma revista especializada vai ser lida por muito menos pessoas, a questão que quis levantar é a seguinte: Mas nós fazemos ciência pra quem? É certo gastarmos milhões em pesquisa de ponta, super restritas, quando na verdade nosso povo precisa de pesquisa bem básica (ou melhor, aplicarmos aquilo que pesquisamos!) para ter uma melhor qualidade de vida. Do que adianta publicar sobre ecologia teórica na Science, quando quem me paga pra fazer ciência está morrendo por falta de água potável ou de desnutrição?
    Posso estar passando por uma crise existencial ou, como alguns machões pode falar, um "ataque de viadice" (desculpe o linguagem). Mas algo está me incomodando muito. E fede, fede muito. Um fedor de impunidade e falta de entendimento da verdadeira realidade do Brasil.
    Espero que eu seja entendido, ou melhor, respeitado. Como todos os comentários foram. Bastante respeitosos.
    Mais uma vez, muito obrigado pela participação.

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  10. Oi Breno!!!
    Primeiro queria dizer que o seu texto relata não só a sua dúvida, mas a dúvida de todas as pessoas com quem já conversei e que estão no fim da faculdade. Até porque é mais uma etapa da vida que se encerra e por isso exige de nós o esforço de um recomeço. A questão é definir o rumo.
    Realmente somos privilegiados por termos a oportunidade de estudarmos o que gostamos e muitas vezes receber bolsas para isso. Mas é exatamente isso que nos acomoda e nos torna dependente da vida acadêmica. É evidente que todos os privilégios envolvidos na profissão de um professor universitário faz com que esse seja o rumo que muitos buscam. Mas como inserir tantos profissionais num mercado de trabalho que está cada vez mais saturado e sem perspectivas? Realmente estamos formando profissionais qualificados e desempregados.
    A verdade é que cada vez mais diploma universitário deixou de ser garantia de um bom futuro profissional.

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  11. Breno, por esta consciencia que manifestas agora acerca da "nossa realidade", é que sem pena, larguei meu mestrado, depois de todo o trabalho de articulação que tive para garantir tudo que precisava antes mesmo de ter certeza do que queria... busquei cada detalhe, bolsa, laboratório, recursos, pessoas, possibilidades, ... entreguei o bendito projeto com muita satisfação, estudei feito um doido, tendo 2 empregos pra cumprir, pois sempre tive que me sustentar (algo que faço desde a adolescencia); só que ao chegar num ponto onde eu teria que recomeçar do zero kelvin pra viver de uma bolsa (à época de cerca de R$840,00), e com uma perspectiva tenue de retorno tanto financeiro quanto de resultados praticos da pesquisa, ..ao chegar ao climax da situação, desisti de tudo e me lancei no mercado de trabalho... obviamente obtive muito mais ganhos e experiencia de vida nestes anos que se passaram, do que teria se estivesse no mestrado, embora não seja algo que me de tanto prazer quanto pesquisar. ..mas ao pensar no futuro "real", preferi deixar pra depois.

    Não sei se o resultado da dedicação ao mestrado teria realmente servido para alguma coisa, já que na minha visão, ou é útil, ou não serve pra nada. .. E ter tanto trabalho para não servir para quase ninguém além de algumas discussões academicas, ou para algum figurão ganhar dinheiro às nossas custas, francamente me desestimulou muito.

    ...talvez se tivessemos nascido canadenses, australianos, britanicos ou franceses (por que me livrem as divindades de nascer norte-americano), fosse um orgulho ser academico e pesquisador, mas na realidade em que estamos de desvios e pensamentos estreitos, onde nosso esforço não parece merecer lá muita atençao, só posso deixar de lamentar, e buscar alternativas... e é neste caminho que estou, na busca de alternativas... ..pense nisso. Deixe a frustração pra trás, e caminhe junto com as alernativas...

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