quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Bolhas de metano no ártico podem acelerar o aquecimento global?

A revista Nature desta semana (publicada hoje) discute uma notícia que deixaria qualquer ambientalista de cabelo em pé. Em uma nova expedição ao ártico, um grupo de cientistas britânicos confirmou a descoberta de áreas do ártico que apresentam grande quantidade de gás metano em forma de bolhas. O mesmo relato foi feito por cientistas russos no mês de agosto, notícia que teve grande cobertura até na imprensa brasileira.



Navio britânico em expedição no ártico. Fonte: nature


Tendo a molécula de metano (CH4) um potencial estufa 20 vezes maior que a de gás carbônico (CO2), previsões alarmistas de que esta descoberta pudesse acelerar ainda mais o aquecimento global foram recorrentes na grande mídia. Hans-Wolfgang Hubberten, especialista em permafrost (tipo característico de solo congelado desta região), afirmou que "O risco é real (...) mas não há razão para pânico".

A idéia é que todo este metano acumulado abaixo da camada de gelo no ártico poderia ser liberado pela atmosfera. Este argumento segue a premissa de que grande parte do gelo desta área está ficando mais fino, devido ao aumento da temperatura do globo terrestre. Sendo assim, teríamos um efeito de "feed-back" positivo para o aquecimento global. Quanto maior o aumento da temperatura, menor a espessura do gelo do ártico, maior a emissão de metano, maior aumento da temperatura...As amostras coletadas pelos cientistas britânicos devem ser analisadas agora em laboratórios de isótopos para determinar a origem do gás metano. Esta etapa é importante e, como foi levantado por Hubberten, grande parte deste metano pode ser "novo". Este seria produzido por bactérias metanogênicas (microorganismos que reduzem CO2 para obtenção de energia, liberando metano), não tendo a origem antiga defendida por trabalhos anteriores.

A concentração de metano na atmosfera terrestre aumentou muito em 2007 (de 7,5 para 1.800 partes por bilhão), em contraste com o aumento quase nulo de 1999 até 2006. Este aumento provavelmente tem grande influência de regiões como o ártico e os trópicos, defasadas em estudos sobre emissão de gases estufa. Como eu disse no início do post, vamos deixar o desespero para os ambientalistas. Estudos sérios estão sendo conduzidos e muito em relação a este assunto ainda será discutido.

PS.: No site da revista Nature, comentaram que algumas bactérias "consomem" metano e que estas poderiam "sugar" parte destas bolhas, evitando que elas sejam lançadas na atmosfera. A idéia está certa, mas o argumento é falso. As bactérias metanotróficas oxidam o metano dissolvido na coluna d´água ou no sedimento (não em forma de bolhas), liberando gás carbônio. Este processo teria um efeito menor para o aquecimento global do que se fosse liberado metano diretamente para a atmosfera, já que o CO2 tem um potencial estufa 20 vezes menor que o CH4. Mas dependendo da pressão hidrostática e da concentração de metano dissolvida, a principal forma do metano na água é em bolhas, que tem um caminho para a atmosfera "protegido" da oxidação por bactérias metanotróficas. Então o "consumo" de metano nesta região do ártico onde há uma grande concentração deste gás em forma de bolhas seria mínimo.

Referências:

Schiermeier, Q. (2008). Fears surface over methane leaks. Nature: 455, 572-573

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