terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Criacionismo é defendido por professores da terra de Dawkins


Com certeza Richard Dawkins não teve um bom natal. Não por ele ser ateu. Muitos dizem que ele acaba sendo fundamentalista quando ataca de forma mais "ríspida" os teístas. Mas ele mesmo se considera um "cristão cultural", mostrando que não faz parte de um movimento para acabar com todos os resquícios da religião do mundo. Acho que ele só realmente perdeu a paciência com o lado ruim da religião. Algo que eu também perdi.

Continuando, Dawkins teve um natal ruim devido a uma nova pesquisa realizada entre os professores de ciências da Inglaterra e publicada no dia 24. Segundo a pesquisa, 30% destes professores acreditam que o criacionismo deveria ser ensinado junto com a Teoria da Evolução nas escolas. Sim, é isso mesmo que você está lendo. Professores de ciências, não de filosofia, história ou geografia. Professores de ciências defendem que o criacionismo seja ensinado em escolas públicas da Grã-Bretanha. Adivinha a opinião do Dawkins? Ele classificou este resultado de "vergonha nacional". Depois ainda perguntam porque ele defende tanto seus argumentos. Podemos questionar o seu posicionamento em relação a religião em geral, mas defender criacionismo nas escolas é algo realmente impensável. Quem diria que países considerados "desenvolvidos" pudessem apresentar este quadro. Podemos perceber que o problema da pseudo ciência está muito além da educação básica.

Uma frase do professor britânico Michael Reiss quase me fez cair da cadeira. Ele é ex-diretor de educação da Royal Society. Em setembro deste ano pediu demissão, devido a polêmica gerada pelo seu posicionamento a favor do criacionismo.

"O simples fato de uma determinada coisa não ter fundamento científico não me parece ser razão suficiente para justificar a exclusão do tema de uma aula de ciências."

Ah, então entendi. Não é preciso ter fundamento científico para algo ser discutido nas aulas de ciências? O que é preciso então? Daqui a pouco vamos ter cursos de homeopatia e florais em universidades...bem, já temos.

Para ler mais sobre esta pesquisa, veja a reportagem completa no sítio do jornal O Estado de S. Paulo.

7 comentários:

  1. Luiz,
    Um dos grandes problemas da educação científica, a meu ver, é que temos que substituir as "certezas" das pessoas por hipóteses que podem vir a ser descartadas ou modificadas posteriormente. O negócio é mais ou menos como trocar o "certo pelo duvidoso" - e muitos professores pensam da mesma forma. Acredito que o ensino de ciências, para escapar desse dilema, precisa ser profundamente relacionado à filosofia e à idéia de que a nossa perspectiva é apenas um dos vários pontos-de-vista do homem sobre a realidade do seu entorno, que se baseia em evidências, diferentemente da metafísica, da arte etc. Se é ciência, obviamente é preciso algum suporte para ela (diferentemente do que diz o Michael Reiss em seu surto de estupidez absoluta).
    Publiquei um artigo em 2004 em uma Ciência Hoje que trata um pouco disso. Se quiser, te mando o pdf - ele também está postado no meu blog, em uma versão aumentada, dividido em 4 partes.
    Abraço!

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  2. Concordo Charles.

    Um exemplo claro disso é falar sobre "teoria" da evolução para leigos. Quando citamos "teoria", logo eles imaginam que é algo recente, sem provas científicas. Nós utilizamos o tempo todo a expressão "fulano tem uma teoria". Se qualquer um tem uma teoria, a "teoria" da evolução é mais uma delas. Aí que entra o que você falou, devemos chegar a filosofia, explicando o que é uma teoria científica para começar a fazer a pessoa entender verdadeiramente o que estamos falando. Atualmente o que mais fazemos é "forçar" as pessoas a acreditarem na gente. Muito pelo discurso distante da realidade das pessoas, muito pelos nossos títulos, dentro outros. Acabamos não muito diferentes do que pastores ou padres. Donos da "verdade absoluta".

    Me interessaria muito em ler seu artigo charles. Pode mandar para o email do blog que está na barra lateral.

    Abraços e valeu pela visita. Gostei muito do seu último post. Faz parte daquela sua iniciativa que você falou no EWclipo? Temos que divulgar mais isso!

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  3. Luiz,
    Você tem razão. Não podemos nos transformar em novos sacerdotes - a ciência é vista por muitos como apenas uma outra religião ou um outro sistema de crenças.
    Meu novo post tem sim a ver com o que discutimos no EWCLiPo. Gostei muito da conversa sobre a necessidade de se abordar a ciência por outro lado, através, por exemplo, de narrativas - se há histórias da Bíblia, por que não produzimos histórias da evolução? Ou sobre Linnaeus, Buffon, Darwin, Mayr, Hennig, Watson, Wilson, Gould, Dawkins?
    Há interesse por parte das crianças e dos adolescentes pelo conhecimento científico. Precisamos atingir esse público de alguma forma. Por isso a importância de autores como Michael Crichton e Carl Sagan (no Contato) e outros que tentam ser cientificamente corretos sem que o discurso seja mais uma pregação.

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  4. Ah... talvez fosse interessante propor alguma coisa como "contos que divulgam ciência" no Roda de Ciência ou em algum outro lugar de blogagem coletiva. Quem sabe não sai alguma coisa interessante daí?

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  5. Acho ótima a idéia. Talvez saia algo interessante mesmo. Não somos escritores profissionais, mas é um caminho.

    Quanto ao roda da ciência eu acho que fica meio restrito. A blogosfera científica está começando a crescer. Gosto mais da idéia de blogagem coletiva. Acho que assim podemos descobrir novos blogs e dar oportunidade para todos.

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  6. Acredito que nas aulas de Ciências, o professor deve mostrar os vários pontos da Evolução... e as incertezas científicas que até hoje ninguém conseguiu provar algo concreto a respeito e deixar que o aluno formule e acredite na teoria que mais se aproxime da suas idéias. Mostrando que a Ciência tem muita relação com religiões...

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  7. Bem anônimo, primeiramente bem vindo ao blog. Segundo, gostaria muito que você me indicasse qual "teoria" que mostra que a ciência tem muita "relação" com religiões. Teoria atualmente tem um significado bem amplo. Pode ser qualquer coisa defendida por qualquer pessoa sem nenhum embasamento. Se você está falando de criacionismo, design inteligente ou qualquer outro nome dado a este tipo de pseudo ciência, então estamos a anos luz de uma "teoria científica".

    Criacionismo não é uma teoria científica e nunca deve ser ensinado juntamente com teoria da evolução em nome de uma pseudo liberdade de pensamento. Este argumento é utilizado para tentar equiparar uma teoria religiosa (criacionismo) a uma teoria científica baseada em fatos como a evolução por seleção natural. Para criticar uma teoria científica não podemos apenas dizer que ela tem o que você chama de "incertezas" e por isso devemos adotar uma teoria religiosa que não explica absolutamente nada e dizer que devemos tudo a um criador.

    Nós cientistas vemos em "incertezas" motivos para buscar provas e explicações para um fato. Criacionistas veem em incertezas maneiras de "provar" que existe um "design superior". Há muito tempo atrás achávamos que o fogo era uma coisa divina. Que os relâmpagos eram divinos. Que ratos "surgiam" do lixo. Explicações simples para fenômenos complexos. Se os cientistas não buscassem o porque de "incertezas" tenho certeza que ainda viveríamos em um mundo muito obscuro. Como diria Sagan, a ciência é uma vela no escuro, em um mundo dominado por demônios.

    Obrigado pela comentário.

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