quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A importância dos ambientes aquáticos no ciclo do carbono amazônico

Durante muito tempo acreditou-se que a Amazônia fosse um sumidouro de carbono, isto é, com o crescimento da biomassa vegetal, grandes quantidades de carbono seriam estocadas. Como sabemos, durante a fotossíntese, gás carbônico é absorvido da atmosfera pelos vegetais. Entretanto, pesquisadores brasileiros estão em dúvida sobre o balanço de carbono da floresta.

A pesquisa foi realizada pelo Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia, consórcio de pesquisadores de vários países, liderados pelo Brasil, que tem como objetivo "gerar novos conhecimentos, necessários à compreensão do funcionamento climatológico, ecológico, biogeoquímico e hidrológico da Amazônia, do impacto das mudanças dos usos da terra nesse funcionamento, e das interações entre a Amazônia e o sistema biogeofísico global da Terra". Este projeto engloba mais de trezentos cientistas de todo mundo. Renomados pesquisadores brasileiros como Luiz Antônio Martinelli, Carlos Nobre, José Antônio Marengo e outros fazem parte desta equipe. Em 2008, só como exemplo, este grupo publicou artigos nas revistas Science, Nature, Global Change Biology e Ecosystems, além de outras importantes publicações científicas. É um orgulho termos pesquisadores brasileiros na ponta da pesquisa científica mundial.

Voltando a quastão dos ambientes, a equipe do engenheiro agrônomo Reynaldo Victoria (USP) tem analisado a contribuição dos ambientes aquáticos no balanço de carbono da floresta. Pelas suas contas, estes ambientes emitem para atmosfera por volta de 470 milhões de toneladas de CO2 por ano para atmosfera. Isto é 1% do total de emissões globais de CO2 no ano de 2004. Calculando-se a quantidade por área, é aproximadamente 1,2 tonelada por hectare. Sendo assim, a floresta Amazônica pode ao invés de ser um sumidouro, ser uma fonte de CO2 para atmosfera.

O reflexo das plantas nos ambientes aquáticos é a matéria orgânica
liberada por elas (que poético, não?)


Mas por que esses ambientes aquáticos liberam CO2 para atmosfera? Basicamente, a matéria orgânica proveniente da vegetação da floresta (folhas, galhos, resto de animais, carbono orgânico dissolvido lixiviado, e outros) se acumulam nestes ambientes, pois a rede de rios é bastante densa dentro de toda a floresta. Além disso, através de ciclo de cheia e seca, a água avança sobre o ambiente terrestre captando ainda mais matéria orgânica. Deste modo, esta matéria orgânica serve como substrato para ação decompositora (o carbono orgânico dissolvido, basicamente, para as bactérias e o particulado para ouros organismos maiores). E como a produção primária nos rios é bastante pequena, o balanço geral fica negativo, isto é, os rios emitem CO2 para atmosfera. Em uma analogia, o rio funciona como se fosse um organismo heterotrófico, se o balanço fosse positivo, o rio funcionaria como um vegetal (absorveria CO2 da atmosfera).

Duvido que passe na cabeça de alguém de achar que a solução é acabar com a Amazônia. Esta floresta tem papel importantíssimo na regulação do clima de outras regiões do Brasil. Além de todo o potencial biotecnológico, aliás, se os grandes agricultores entendessem a riqueza deste potencial, parariam de destruir e lucrariam mais com a floresta em pé. Exportar soja e carne a toneladas, com certeza é menos lucrativo do que descobrir um composto ativo para a indústria farmacêutica. Mas isso é assunto para outros posts.

Fonte: Pesquisa Fapesp on line

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