quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Desmatamento coloca Brasil entre os maiores poluidores do mundo

Apesar de toda a propaganda do governo com relação a diminuição do desmatamento da Amazônia, uma coisa é certa: o Brasil tem se tornado um dos grandes vilões do aquecimento global. E o que é diferente dos outros países, essa contribuição não é devido a industria e sim por causa do desmatamento. Deste modo, o Brasil age duplamente contra a natureza: destrói toda a floresta Amazônica para aumentar as áreas de pasto, cana e soja, e ainda contribui imensamente com o aquecimento global.


Reportagem do Jornal Estado de São Paulo:

O Brasil continua entre os maiores emissores de dióxido de carbono (CO2), o principal gás do efeito estufa, porque mantém taxas elevadas de desmatamento da Amazônia.


Segundo uma projeção feita pelo especialista José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, à qual o Estado teve acesso, o País emitiu 1,141 bilhão de toneladas em 2006, das quais cerca de 855 milhões (75%) viriam de mudanças no solo - corte e queimada da floresta. O valor mantém o País em 5º lugar (sem contar a contribuição da União Européia).

A secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Thelma Krug, contesta a informação e diz que o número está superestimado. Em uma projeção feita para o Estado, ela afirma que as emissões em 2006 provenientes do desmatamento da Amazônia girariam em torno de 684 milhões de toneladas de CO2.

Os cálculos feitos pelos dois cientistas não são oficiais e usam como base o primeiro e único inventário brasileiro de emissões de gases do efeito estufa. Ele foi lançado em 2004, mas apresenta um corte do passado, uma vez que usa dados registrados entre 1990 e 1994.

“Esse não é um cálculo com valor científico. Porém, mostra que o problema continua o mesmo”, afirma Goldemberg. “Se o desmatamento fosse zerado, o Brasil ficaria na 18ª posição.”

Poucas nações estão na lista dos maiores emissores globais por causa da perda de florestas. O outro caso notável é a Indonésia, que tem derrubado a mata nativa para plantar dendê e alimentar o mercado europeu de biocombustíveis. O maior problema dos outros países, especialmente no Hemisfério Norte, é a geração de energia com queima de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão.

Segundo informações divulgadas ontem pelo Secretariado de Mudança no Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), em Bonn, a emissão total dos 40 países mais industrializados do mundo atingiu 18,2 bilhões de toneladas em 2005, apenas meio bilhão abaixo do nível registrado em 1990.

Pedra no sapato

Ainda que não concorde com o valor apresentado por Goldemberg, a secretária considera que o desmatamento ainda é a principal contribuição brasileira para o agravamento do efeito estufa, e na mesma proporção observada 12 anos antes: responde por 75% do total emitido pelo País. “A proporção é semelhante à do período 1990/1994”, diz.

Conforme o inventário nacional, 96% das emissões líquidas do setor de mudança no uso da terra podem ser creditadas à conversão de florestas em atividades de agricultura e pecuária. O desmatamento é uma importante fonte de emissão porque a vegetação naturalmente armazena carbono.

O elemento é estocado em seus tecidos devido à fotossíntese, quando o CO2, o gás carbônico, é absorvido pelas plantas. Quando são cortadas, esse carbono volta para a atmosfera. As queimadas emitem, além de CO2, outros gases-estufa, como o metano (CH4).

Para Goldemberg, não existe justificativa para que a conversão da Amazônia em pasto e plantação mantenha o País entre os maiores emissores do mundo. “Nós sabemos mais agora sobre essas questões do que há 20 anos”, afirma.

A secretária de Mudanças Climáticas diz que o próximo inventário nacional de emissões será divulgado em 2009, com informações coletadas entre 1995 e 2000. Ao contrário dos países desenvolvidos, as nações em desenvolvimento não têm a obrigação de entregar relatórios anuais às Nações Unidas.

Além desse, Krug afirma que o ministério trabalha para entregar, na mesma época, uma estimativa das emissões entre 2001 e 2006. “Queremos incluir a matriz da conversão da terra: o que se perdeu e seu destino, se é uma vegetação perene”, explica. “O projeto está em andamento, com contratos já em execução.”
(O Estado de SP, 6/11)

(Fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=52014")

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Influência da Amazônia no regime de chuvas do Sul e Sudeste

Cada dia mais os cientistas nos dão mais provas da importância da Amazônia para o Brasil e o resto do mundo. Somente um governo relapso e sem preocupação com a questão ambiental para não lutar com todas as forças contra a devastação desse imenso termostato natural.
Mais uma vez, me parece que somente quando a situação realmente se tornar catastrófica, alguma solução tentará ser tomada.


Fábio Amato escreve para a “Folha de SP”:

A elevação da temperatura média na Amazônia nos próximos anos deverá implicar uma maior ocorrência de chuvas fortes e intensas na região da bacia do rio da Prata, que inclui os Estados do Sudeste e do Sul do país, além de parte da Argentina e do Paraguai.

Isso significa que, no futuro, a região poderá registrar com maior freqüência problemas como enchentes e perdas na agricultura em razão do aquecimento global.

As conseqüências desse cenário são algo que qualquer cidadão paulistano já sente na pele todo verão: tempestades que alagam a cidade em questão de horas, matam gente -sobretudo nas regiões mais pobres- e causam prejuízos.

É o que conclui o pesquisador do Cptec (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) Wagner Rodrigues Soares, em tese de doutorado que será defendida no começo do ano que vem no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O trabalho teve duração de quatro anos.

Soares analisou os ventos responsáveis por transportar umidade da Amazônia até a bacia do Prata, os chamados jatos de baixos níveis da América do Sul. A umidade transportada por esses ventos tem influência no clima no sul do continente.

Com ajuda de um programa de computador, o pesquisador calculou quantos desses jatos de baixos níveis ocorreram durante a década de 1980 e quantos devem ocorrer na década de 2080, em um cenário de aquecimento global previsto pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), no qual a Amazônia terá temperaturas médias de 2C a 7C superiores às atuais.

O resultado da comparação entre os dois períodos aponta um aumento de até 86% na ocorrência dos jatos durante a década de 2080.

A quantidade maior de jatos, segundo o estudo, deve elevar em cerca de 50% o fluxo de umidade da Amazônia para a bacia do Prata.

Convergência

"Com o aumento da quantidade de umidade, vai haver uma maior convergência, ou seja, a umidade que chega da Amazônia e aquela que já está na bacia do Prata se juntam e sobem para a atmosfera. Esse fenômeno é responsável pela formação das nuvens e das chuvas", diz Soares.

Segundo ele, o aumento da umidade está ligado a uma maior quantidade de eventos extremos de chuva na bacia do Prata. "Isso significa que as regiões Sul e Sudeste do país podem enfrentar mais enchentes e problemas na agricultura em um futuro com aquecimento global extremo", afirma.

De acordo com o estudo, o aumento da ocorrência dos jatos poderá resultar também em maiores eventos de seca na Amazônia, porque uma maior quantidade de umidade deve ser transportada da floresta para o sul.
(Folha de SP, 3/11)

(fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=51984)

Substituição de gás por óleo pode piorar qualidade do ar

É um absurdo a postura da Petrobrás diante deste problema de falta de gás natural. Num momento em que discutimos o uso de energias alternativas, essa estatal retrocede no tempo.

A troca de combustíveis pode piorar a qualidade do ar e aumentar o efeito estufa. A solução encontrada pela Petrobras para a falta de gás terá outra vítima, além das indústrias e dos consumidores: o meio ambiente. Isso porque a solução encontrada para atender a demanda, a substituição do gás natural pelo óleo combustível, é mais poluente.


"O governo tem encorajado as indústrias, as termelétricas e os veículos a abandonar o óleo combustível pelo gás natural por razões ambientais", afirma José Goldemberg, professor do IEE (Instituto de Eletrotécnica e Energia) da USP. "Só que agora estão buscando uma solução que contraria os avanços dos últimos dez anos. Os impactos ambientais serão grandes."

Segundo Goldemberg, quem pagará esse preço extra será o consumidor, com ar de pior qualidade e aumento do efeito estufa. "O governo não pode resolver o problema às custas do meio ambiente."
(Folha de SP, 1/11)

Comunidade científica não apoia pagamento por preservação

Eis a resposta da comunidade cientifíca a proposta do governo para proteção da Amazônia:

Herton Escobar escreve para “O Estado de SP”:

Cientistas criticaram ontem uma proposta de organizações não-governamentais para acabar com o desmatamento na Amazônia nos próximos sete anos.

A iniciativa, apresentada no início de outubro com o nome Pacto pela Valorização da Floresta e pelo Fim do Desmatamento, tem como princípio o uso de recursos públicos (R$ 7 bilhões no total) para premiar financeiramente fazendeiros, Estados e comunidades que deixarem de desmatar.

Na prática, dizem os pesquisadores, isso significaria pagar as pessoas para cumprirem a lei, além de não garantir a conservação da floresta.

“É uma proposta extremamente temerária”, disse o economista Francisco de Assis Costa, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA). “Vão dar dinheiro para quem sempre desmatou: fazendeiro, madeireiro, grileiro”, ressaltou a diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi, Ima Vieira.

Ambos participaram ontem do seminário da Rede Temática de Pesquisa em Modelagem Ambiental da Amazônia (Rede Geoma), em Petrópolis (RJ). No encerramento do evento, os mais de cem pesquisadores presentes aprovaram uma carta de repúdio ao pacto da ONGs.

A idéia é valorizar a floresta em pé de forma a torná-la economicamente mais competitiva na comparação com a pecuária e a agricultura. A proposta das ONGs usa o conceito de pagamento por serviços ambientais que hoje são prestados “gratuitamente” pela floresta, como retenção de carbono e produção de chuvas.

Assim, proprietários que deixassem de desmatar seriam pagos pela preservação dos serviços. O custo anual estimado é de R$ 1 bilhão. A proposta é assinada por nove grandes organizações: ISA, Greenpeace, Ipam, ICV, Conservação Internacional, TNC, Imazon, Amigos da Terra e WWF.

Para pesquisadores do Geoma, o mais lógico seria penalizar quem desmata ilegalmente, em vez de premiar aqueles que cumprem a lei. Para Ima Vieira, o pagamento por serviços ambientais só faria sentido em situação de legalidade. Não é o caso da Amazônia, onde quase todo o desmatamento é ilegal.

A geógrafa Bertha Becker, da UFRJ, disse que a proposta “imobiliza de novo a Amazônia” ao sugerir que a floresta seja simplesmente mantida em pé, em vez de investir na exploração sustentável dos recursos florestais. “O que precisa ser remunerado é uma mudança de paradigma, para produzir sem destruir.”

O mecanismo, segundo Costa, poderia até mesmo aumentar o desmatamento, ao injetar recursos num sistema carente de alternativas econômicas. “Alguns indivíduos poderão até parar de desmatar. Mas as forças de mercado que dependem dos produtos que esses atores fornecem hoje (como soja e carne) continuarão atuando. Alguém vai ter que atender a essa demanda”, disse.

A proposta das ONGs

R$ 7 bilhões

Seriam destinados a fazendeiros, Estados e comunidades pela preservação dos serviços ambientais prestados pela floresta. Esse valor seria o suficiente para zerar o desmatamento

R$ 1 bilhão

É a estimativa anual de recursos que financiariam quem conserva a floresta, bancados especialmente com dinheiro público
(O Estado de SP, 1/11)