sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

ONGs do bem, ONGs do mal

Gostaria de compartilhar com vocês um texto publicado pelo jornal Folha de São Paulo no dia 13 de janeiro por Rogério Cezar de Cerqueira Leite, que é físico e professor emérito da Unicamp. É uma visão crítica do papel das ONGs na conservação ambiental. Abaixo um trecho selecionado por mim deste artigo.

"(...) Não nos ocuparemos aqui daquelas denominadas "ONGs do mal". Dentre elas, aquelas cujo propósito único é o usufruto de benesses financeiras e materiais. São denominadas ONGs sanguessugas nos compêndios de parasitologia. Tampouco consideraremos aquelas ONGs que, sustentadas por instituições e governos estrangeiros, defendem interesses alienígenas e se mantêm insensíveis às aspirações do povo brasileiro.

Concentraremo-nos, portanto, naquelas denominadas "ONGs do bem". Vamos também incluir nesse conjunto bem intencionados defensores públicos e autoridades do setor de meio ambiente. E vamos começar pelo recente leilão de eletricidade que teve como consequência a autorização e incontornável implantação de 50 termoelétricas a combustíveis fósseis.

Argumentam esses missionários verdolengos que hidroelétricas reclamam represamento de água e que represas são prejudiciais ao meio ambiente por vários motivos. Inicialmente, porque ocupam o espaço do ambiente natural, principalmente florestas, ameaçando espécies naturais e o equilíbrio ecológico.

Ora, qualquer espécie que estiver restrita exclusivamente à região de uma futura represa hidroelétrica já está condenada à extinção devido ao espaço limitado. Por outro lado, a questão de espaço vital é ridícula, pois, se assim fosse, teríamos que secar os lagos naturais. A maior diferença entre lagos naturais e represas é que os primeiros foram feitos pela mãe natureza (Jeová para alguns), enquanto as represas resultam da ação do homem sobre a natureza. No fundo, uma grande parcela da aversão dos chamados ambientalistas por represas é de origem religiosa."

Leia o texto completo no sítio do Jornal da Ciência.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Blogando sobre "A Origem das espécies"



Parabéns pra você....


Em mais um dos projetos que vão se tornar cada vez mais frequentes este ano, a revista de divulgação científica americana SEED (que tem uma frase interessante como lema: "Ciência é cultura") inaugurou mais um blog no portal americano ScienceBlogs (que é patrocinado pela mesma). Este blog é um pouco diferente dos demais, pois trata de um assunto específico. Quer dizer, bem específico. Este na verdade não é um assunto, mas sim um livro. O blog, que tem o criativo nome Blogging the Orgin, é escrito pelo ecólogo e escritor John Whitfield. Seu principal tema de pesquisa é biologia evolutiva e, logicamente, ele é um expert no principal livro de Darwin.

Bem, na verdade a história não é bem assim. No seu primeiro post, Whitfield confessa que nunca leu o livro "A Origem das espécies". Além disso, ainda provoca o leitor dizendo: "Eu choquei você? Bom". É claro que ele não se orgulha disso. Mas uma coisa interessante é que acompanhar a discussão de alguém que nunca leu o livro pode se tornar uma experiência diferenciada. Vamos ver passo a passo o processo de uma pessoa que tem conhecimento científico na área descobrir as revelações de um livro escrito a 150 anos atrás e como ele ainda pode influenciar a pesquisa hoje em dia.

Depois deste primeiro post ele publicará de forma periódica cada capítulo do livro (já foram publicadas a introdução e o primeiro capítulo), terminando com a discussão do último capítulo exatamente no Dia Darwin, 12 de Fevereiro. Para quem não sabe, dia 12 de fevereiro comemoraremos 200 anos de nascimento de Charles Robert Darwin.


quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Ferro + algas = mitigação do aquecimento global. Ou não?



Navio alemão utilizado para fertilizar o oceano. Fonte: NatureNews


Bem, como o Breno ressaltou no post anterior, a ecologia não é tão direta como a matemática. Nem sempre 2+2=4. Na verdade, muitas vezes 2+2=5 e, depois de alguns meses ou em um outro ambiente, 2+2=3.

Essa semana um navio alemão zarpou em direção a Antártica. Ele não estava carregado com sal, alimentos ou qualquer outro tipo de carga usual. Ele na verdade estava carregado com 20 toneladas de ferro. Quer dizer, ainda está carregado, mas por pouco tempo. O objetivo do grupo de 50 cientistas de várias partes do mundo é descarregar todo este ferro em pleno oceano, em busca da indução de um bloom algal. Além de estimular a produtividade primária desta porção de água normalmente limitada por ferro, os cientistas pretendem acompanhar todo o processo em várias escalas, como: biologia marinha, fluxo de carbono, diversidade biológica, dentre outras.

Esta saída de campo tem um carácter um pouco diferente de outras tentativas de fertilizar o oceano pretéritas. O foco desta pesquisa está exatamente em acompanhar as consequências da fertilização, não só em termos de fixação de carbono, como pensando na cadeia trófica como um todo. Mesmo assim o navio alemão tem causado uma grande discussão na mídia científica gringa. Isso porque as tentativas anteriores visavam apenas a fertilização em si em busca dos preciosos créditos de carbono, principalmente financiadas por empresas que em nenhum momento se preocupavam com a alteração marcante na cadeia trófica marinha que elas estavam causando.

Vamos tentar entender o problema. Pensando como um empresário:

As mudanças climáticas são um problema gigantesco para o planeta Temos muitas algas nos oceanos que são limitadas por ferro. Ferro é um mineral relativamente barato. Então vamos pegar um navio cargueiro e jogar ferro no oceano! Assim além de salvar o planeta ainda vamos vender muitos créditos de carbono e ficar milionários!

E agora pensando como um ecólogo:

O aquecimento global é um fenômeno que tem se mostrado cada vez mais real pelas pesquisas cientificas e pode trazer conquências para a vida humana na terra. As algas nos oceanos são limitadas por ferro, mas podem também ser limitadas por outros nutrientes, principalmente com ferro em excesso. Além disso, blooms de algas tem se mostrado no mundo todo como fenômenos imprevisíveis e que podem muitas vezes ser dominados por algas tóxicas. Outro problema está na decomposição por microrganismos do fundo do oceano de toda esta nova biomassa gerada, o que pode diminuir a oxigenação do fundo e ao mesmo tempo liberar grande parte do carbono fixado pelas algas. Isso sem contar em alterações na teia trófica que um input tão grande de nutrientes pode causar.


Podemos ver então onde o problema se concentra. Pelo que eu li, os cientistas desta pesquisa recente estão muito cientes do problema e, na veradade, querem entender as consequências reais da fertilização do oceano por ferro. Assim poderemos no futuro entender se este processo pode ser feito em larga escala em nossos oceanos ou se ele pode trazer mais problemas do que vantagens em termos ecossistêmicos.

Mais uma vez gostaria de ressaltar o que a histeria quanto ao aquecimento global pode causar. Empresas pilantras como as que tentaram fertilizar os oceanos com ferro sem nenhuma base científica foram estimuladas pela geração "Al Gore", geração "verde". Espero que a pesquisa na antártica tenha resultados científicos relevantes, para entendermos um pouco mais como lidar com a natureza. Bem diferente de tratar a complexidade de ecossistemas como uma equação matemática simples, como muitos engenheiros fazem.

Para ler mais sobre esta iniciativa e sobre fertilização do oceano, leia o artigo da NatureNews e da NewScientist.

Para ler outros posts sobre aquecimento global, clique aqui.


UPDATE - 15/01/09 13:50


Segundo o NatureNews, o experimento citado no post foi suspenso. O ministro das ciências da Alemanha pediu para o grupo de pesquisadores responsável pela pesquisa providenciar um novo estudo de impacto ambiental. Ulrich Bathmann, oceanógrafo e um dos responsáveis pelo experimento disse que "É lastimável que o LOHAFEX (codinome do experimento) seja comparado de forma indiferenciada com atividades industriais poluidoras, as quais não tem absolutamente nada em comum."

Mais uma vez os ambientalistas conseguiram. Através de força política e comoção da opinião pública eles suspenderam um projeto de pesquisa sério. Parabéns.


terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Por que o mundo é verde?

Inspirado em um comentário do Luiz em outro blog, resolvi escrever este post sobre uma das perguntas que por mais de 40 anos instigou os ecólogos. Hairiston (1960), em um trabalho importantíssimo para as bases do estudo de teias tróficas, reuniu os organismos em distintos grupos levando em consideração o modo de alimentação (herbívoros, carnívoros e outros) e no final do final do trabalho levantou a pergunta: Por que o mundo é verde?

O mecanismo seria o seguinte: os carnívoros exercem pressão na população de herbívoros via predação e, assim, liberam os produtores primárias da pressão por pastagem dos herbívoros. Um exemplo clássico de cascata trófica. Algo bem simples, difícil de ser mostrada em ambientes naturais. Porém, Jonh Terborgh (respeitável professor da Universidade de Duke e autor de um dos mais incríveis livros sobre conservação "Requiem for nature", algo como marcha fúnebre para a natureza) publicou um artigo na Science em 2001 com título "Ecological Meltdown in predator-free forest fragments".

Neste artigo, Terborgh e outros pesquisadores puderam observar em tempo real o efeito da ausência de predadores em fragmentos de floresta. Estes fragmentos foram gerados com a construção de uma hidroelétrica na Venezuela. Com a criação do reservatório, foram alagados mais de 4.300 kilômetros quadrados. Devido a natureza irregular desta área, foram formadas ilhas no topo de pequenos morros. Sendo que em algumas dessa ilhas era possível ou não encontrar os famosos predadores de topo (carnívoros).


Ilhas Guri (fragmentos formado pelo reservatório de uma hidroelétrica)


Deste modo, Terborgh pode responder a pergunta feita por Hairston, em 196o, com provas reais. E basicamente o que se viu foi o que Hairston tinha imaginado. Nos fragmentos sem carnívoros, era observado superpopulações de herbívoros. Formigas, iguanas e macacos herbívoros não precisavam mais se preocupar com predadores. Era o céu para eles! Comer e se reproduzir. Tudo na calma. Ao contrário do que muitos pesquisadores pensavam, pois acreditavam que esse crescimento não seria tão grande devido a disponibilidade de alimentos, Terborgh observou um aumento da densidade de herbívoros muito expressivo. Estes animais não se importavam tanto se um dia o suprimento de alimento poderia acabar, eles aumentavam em número absurdamente. Nestes fragmentos, Terborgh também observava que não existia serrapilheira (acúmulo de folhas mortas no solo da floresta), além disso era possível observar o ceú com facilidade (algo extremamente difícil em florestas tropicais, pois o dossel é muito denso), fatos este que tem influência decisiva nos processos biogeoquímicos que ocorrem no solo, além de afetar a dinâmica dos vegetais ali presentes.

Com base nestes fatos, observamos a importância da preservação de todos os componentes teia trófica. Este equilíbrio é muito tênue. Com as taxas de fragmentação dos ambientes naturais cada vez maiores (seja por criação de hidroelétricas, seja por desmatamento), a possibilidade da ocorrência do colapso (ou como disse Terborgh, derretimento) das teias tróficas cresce exponencialmente. O que torna esse fenômeno uns dos mais importante para a Biologia da Conservação. E fica aqui a minha nova pergunta, sabendo porque o mundo é verde, por quanto tempo ele ainda continuará assim? Não estou fazendo essa pergunta com um tom ambientalista, mas me preocupo muito com a fragmenteção de nossa matas. Um exemplo claro é a a Mata Atlântica, reduzida a menos de 10% da sua cobertura original, porém mais grave ainda, é que a mesma se encontra totalmente fragmentada. Isto potencializa ainda mais o desaparecimento deste bioma tão diverso.

Refrências:

Terborgh, J., L. Lopez, P. Nuñez V., M. Rao, G. Shahabuddin, G. Orihuela, M. Riveros, R. Ascanio, G. H. Adler, T. D. Lambert and L. Balbas. 2001. Ecological Meltdown in predator-free forest fragments. Science 294: 1923-1926.

Hairston, N.G.; Smith, F.E. and Slobodkin, L.B. 1960. Community structure, population control and competition. American Naturalist 94: 421-425

Céticos do clima

Gostaria de dividir com vocês um texto meu que fez parte de uma discussão por emeio sobre "céticos do clima".


Eu consigo ver duas divisões claras que são chamadas vulgarmente de "céticos do clima": pessoas que defendem que o aquecimento global é uma farsa (estes também acreditam em outras teorias da conspiração) e pessoas sérias que discutem cientificamente o tema.

Quanto ao citado primeiro, acho que eles foram "criados" por iniciativas sensacionalistas, como o filme do Al Gore. Atitudes como essa são pensadas como uma "boa iniciativa", mas, na minha opinião, têm um efeito ruim posteriormente. São iniciativas baseadas em pseudo-ciência, cheia de erros e brechas onde qualquer um que leia um pouco mais que a Wikipédia pode refutar. Abrindo um pouco mais acho que este é o erro do movimento ambientalista em geral. Cheio de boas intenções, mas que são 99% utópicas ou que não contribuem significativamente com a conservação do planeta. Resumindo, a pessoa vai dormir achando que faz bem ao mundo, mas na verdade está longe disso.

Quanto as pessoas críticas e com argumentos, existem várias. Não acho correto extrapolar como se só fosse "contra" ao aquecimento global quem não tem formação nenhuma na área. Na verdade isso de "apoiar" ou ser "contra" é uma piada. Existem pessoas sérias trabalhando com dados que contrariam parte dos resultados do IPCC, mas isto não é um problema. Não existe verdade ou consenso em ciência. Existem sim artigos sendo publicados em revistas sérias que contrariam parte dos dados do "consenso" do aquecimento global. É só procurar. Cito um aqui por exemplo: http://discutindoecologia.blogspot.com/2008/10/crtica-ao-consenso-cientfico.html. Existem sim climatologistas sérios que trabalham com hipóteses divergentes do IPCC. É só procurar um pouco mais na literatura sobre o tema. O problema é que é quase impossível achar algo na grande mídia, mesmo na internacional. Artigos que questionam parte do que é considerado como verdade absoluta do IPCC não são "populares" (como se isso existisse na ciência). Estes artigos não dizem que "não existe aquecimento global", mas questionam previsões, metodologias e causas deste aquecimento. Muito está sendo discutido sobre isso, mas normalmente não é de interesse da maioria. Muitos perguntariam "Mas se é verdade, não precisam discutir mais, vamos lutar contra o aquecimento!". Mas "lutar" quanto? Como? Qual é a maneira mais eficiente? O buraco é bem mais embaixo. Não vamos tratar o tema como algo trivial. Não vamos transformar isso (já transformamos) em mais uma "causa" para os ambientalistas lutarem contra. O aquecimento global são os "novos" transgênicos. Muito ataque, muita discussão, sem argumentos.

Hoje em dia está na "moda" que tudo é culpa do aquecimento global. Desastre em santa catarina? Aquecimento global! O que importa se tivemos enchentes tão grandes ou até maiores do que esta durante o último século e que inclusive a Oktoberfest tenha sido criada devido a uma grande enchente ocorrida em blumenau na década de 80? Nada disso importa. Tudo é culpa do aquecimento global. É isto que a mídia e os ambientalistas não críticos criaram. O que antes era uma boa causa, acabou criando um mostro. Uma massa acrítica que acha que tudo o que é "verde" é bom, que tudo o que acontece de ruim é culpa do aquecimento global.

Acho sim que o aquecimento global (e não mudanças climáticas, que é um termo que significa tudo e nada ao mesmo tempo) é real e que enfrentaremos um mundo mais quente. Provavalmente o homem foi o causador da aceleração deste processo. Provavelmente porque não é só porque há um aumento da concentração de gases estufa e da temperatura global em uma mesma época que podemos dizer que há uma relação de causa e efeito. O artigo que eu citei anteriormente trata disso, mostrando que a forçante natural não pode ser descartada, como o IPCC enfatiza no seu último relatório. Ambas as causas podem ter um papel importante no aquecimento. Artigos como esse não são "fundamentalistas". São científicos, fazem críticas com dados e discutem encima destes. As vezes o muito óbvio como "homem + poluição = problema ambiental" pode não ser tão óbvio assim. Acho sim que temos problemas muito graves como eutrofização de corpos aquáticos, desertificação, aumento das zonas mortas, só para citar alguns exemplos. Temos bons motivos para culpar os seres humanos pelos problemas ambientais, mas vamos culpar com responsabilidade. Sabendo do que estamos falando.

Só para terminar. Acho que temos um papel muito importante como divulgadores científicos, principalmente nesse caso. Acho que o aquecimento global é um grande exemplo de como devemos tomar cuidado com o que é vinculado pela grande mídia. Tenho certeza absoluta que o alarmisto não é a melhor arma. Muito menos o modismo. Para mim a melhor arma é a informação. Devemos transmitir todos os lados, sendo críticos sobre o conteúdo.


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