sábado, 24 de janeiro de 2009

Agora sim! É para chorar...

Diante de todas as discussões sobre pseudo-ciências e religião, acabo de ler em um jornal de grande circulação aqui no Rio de Janeiro uma notícia de deixar qualquer ser racional de boca aberta. Nosso novo e querido prefeito Eduardo Paes acaba de pedir socorro a FCCC para o combate as chuvas de verão. Então você me pergunta, o que é a FCCC? É a Fundação Cacique Cobra Coral! Por meio da médium Adelaide Scritori, o espírito do Cacique Cobra Coral é incorporado, sendo capaz de afastar (isso mesmo, AFASTAR) as chuvas de verão do Rio de Janeiro. Essa fundação já mantinha um convênio com a administração passada, porém desde o dia 31 de dezembro este convênio não foi renovado.

A FCCC diz não cobrar nenhuma verba da prefeitura do Rio de Janeiro para a formalização do contrato. Deste modo, o secretário de Obras e Serviços Públicos, Luiz Guaraná disse que se o convênio não tem custos para a prefeitura e tranquiliza a população, será renovado com muito prazer. Porém um diretor da fundação diz que além da parte mediunica (essa parte espiritual é de graça), a fundação conta com uma equipe de metereologistas que custa R$60.000 por convênio. Me pergunto, então da onde virá os R$60.000 mensais? (pense bem meu caro leitor) Nossa, essa é para pegar uma espingarda calibre 12, apontar para minha própria cabeça e disparar. A fundação diz que seu maior feito foi ter feito não chover durante uns poucos minutos durante a festa da queima de fogos no Reveillon carioca. Observação: isto porque choveu durante o dia inteiro.

A cada ano que passa, os temporais no Rio de Janeiro tem consequências mais desastrosas em nossa cidade. Barreiras desmoronam, crianças morrem soterradas, milhares de pessoas ficam desabrigadas, caos no trânsito e outros. Isto com a ajuda da eficiente fundação, tanto com a ajudas dos espíritos, como com a ajuda dos meteorologistas.

Agora me pergunto, por que uma fundação que diz controlar o tempo (como a Tempestade do X-men) precisa de uma equipe de meteorologistas? Se ela diz não cobrar a parte espiritual, por que não contratam somente os mediuns (não que isso seja uma coisa boa) e deixa a parte meteorológica com os especialistas que já existem?


Por que não chamamos ela? Marvel cadê você???


É para perder as esperanças. O prefeito que se diz católico, recorre ao espiritismo (ou seja lá qual for a religião que incorpora o Cacique Cobra Coral) para resolver problemas meteorológicos! (nunca entendi essas pessoas religiosas). Não é mais fácil dar um jeito na cidade? Modernizar o sistema de captação das águas pluviais, impedir que milhares de toneladas de lixo sejam jogadas nos nossos rios, que construções irregulares sejam feitas as margens desses mesmos rios ou em encostas com risco desmoronamento.

Bem, acho que vou fundar uma fundação espírita (essa parte de graça), mas com uma equipe de geólogos, engenheiros e biólogos especialistas em planejamento urbano. Essa fundação será especialista em controlar as mortes por soterramento e deslizamentos de terra em encostas. Os especialistas também são de graça, só cobramos o charuto (cubano) e a arruda por módicos R$50.000 mensais. É porque como as coisas aqui estão pretas, vai ser preciso muito charuto e arruda para dar jeito!

É isso que dá misturar religião e ciência (meteorologia). É uma irresponsabilidade e falta de discernimento a cogitação de tal convênio. Nossos governantes perdem tempo com coisas desse tipo, ao invés de pensarem em solução realmente concretas e factíveis. Perder tempo com isso, é gastar o meu dinheiro que pago em impostos em ações que não vão adiantar em nada. Pessoas continuam morrendo, casas continuam a ser destruídas e o trânsito continua um caos.


UPDATE - 25/01/09


Consegui achar o link para um resumo da reportagem. Vejam com os seus próprios olhos no sítio do jornal O Globo.

Para conhecer um pouco mais da fundação, olhem só o que tirei do sítio deles, da parte de "Quem somos":

A Fundação Cacique Cobra Coral foi criada para intervir nos desequilíbrios provocados pelo homem na natureza. Fundada por Ângelo Scritori e tendo a frente sua filha Adelaide Scritori também médium que incorpora o espírito e mentor Cacique Cobra Coral que também já teria sido de Galileu Galilei e Abraham Lincoln. Ângelo Scritori, morreu aos 104 anos, no ano de 2002.

Adelaide Scritori nasceu acompanhada de uma profecia.

História

Uma certa noite ao norte do Paraná, geava fortemente sobre o sítio da família, momento em que sua mãe entrou em trabalho de parto. Tão forte a geada que toda a plantação de café da pequena propriedade foi perdida. Ângelo Scritori afirma que naquela noite a profecia havia acontecido, o espírito do Padre Cícero (1844-1934) se manifestou, como costumava acontecer, por meio dele. Avisou, daquela feita, que a mais nova integrante da família teria poderes para se comunicar com outro espírito, um ente poderoso o suficiente para alterar fenômenos naturais.

Sete anos depois, já menina, Adelaide lembra ter recebido pela primeira vez, no centro espírita freqüentado pelos Scritori, as mensagens enviadas pelo Cacique Cobra Coral. Espírito que já teria sido Galileu Galilei e Abraham Lincoln. Anos depois Ângelo Scritori criou a Fundação Cacique Cobra Coral (FCCC) que logo passou a ter Adelaide Scritori à frente da Fundação. Com o passar dos anos os feitos tomaram tamanha proporção que a Fundação ganhou seguidores e colaboradores pelo mundo inteiro.

Nossa missão: Minimizar catástrofes que podem ocorrer em razão dos desequilíbrios provocados pelo homem na natureza.

Fundação Cacique Cobra Coral


Tirando a parte exotérica, eles são um grupo de confiança. Não sei porque gastamos milhões de reais com o CEPETEC/INPE para fazer previsões do tempo. Seria muito mais proveitoso fazer como a FCCC. Seus "dados" meteorológicos veem da "Tunikito corporation" (sic). "Um conglomerado de empresas que há mais de 20 anos tem se dedicado ao setor de seguros de automóveis, consultoria, administração e participação, representação comercial, locação de veículos importados e meteorologia em todo o mundo". Isso que eu chamo de foco em um tipo de negócio!

Parece uma piada de mau gosto, mas não é. Eles parecem ter convênio com várias prefeituras de todo o Brasil, como mostrado na parte de "convênios" do seu sítio. Dentre elas cidades pequenas como Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Dia Darwin no Rio de Janeiro

Em pleno ano Darwin começam (lentamente) as comemorações em terras tropicais. Dia 12 de fevereiro (dia em que Darwin faria 200 anos) serão realizadas palestras por professores e pesquisadores da UERJ e de outras universidades do Rio de Janeiro sobre a vida e obra de Charles Darwin, evolução e psicologia evolutiva. O evento é gratuito e está previsto para ocorrer das 16:00 às 19:00 no 11º Andar, Bloco F, da UERJ. As palestras já confirmadas são listadas abaixo. Para mais informações e inscrições no evento (as vagas são limitadas): dia.darwin.brasil@gmail.com

  • "O Homem Charles Darwin", com Ricardo Campos da Paz, biólogo e professor da Unirio
  • "Efeitos Astronômicos sobre a Evolução Biológica", com Hélio Jaques Rocha Pinto, astrônomo e professor do Observatório do Valongo/UFRJ
  • "Biologia Evolutiva", com Robson Vera Cruz de Carvalho, biólogo, mestre em Zoologia pelo Museu Nacional/UFRJ
  • "Psicologia Evolucionista – Fundamentos e Desenvolvimentos Contemporâneos", com Aline Melo de Aguiar e Rafael Vera Cruz de Carvalho, ambos psicólogos e mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Uerj

Este evento faz parte da celebração mundial do Dia Darwin que é realizado todo ano no dia 12 de fevereiro, mas que este ano, com certeza, terá maior visibilidade devido aos 200 anos de nascimento de Charles Darwin e os 150 anos de publicação do "A Origem das Espécies". Para ver a descrição do evento no sítio do "Darwin Day", clique aqui.

Fonte: Jornal da Ciência e Agência FAPESP

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Evolução em microescala, o que Darwin não viu.


No ano em que o nascimento de Darwin faz 200 anos, recomecei a tentar ler o famoso "A Origem das Espécies". Recomecei, pois já tentei ler ele umas 3 vezes. Me lembro que comprei esse livro antes de entrar na graduação em Ciências Biológicas em 2002. Acho que não estava preparado, e como um grande número de pessoas, lia muito sobre a obra, mas nunca tinha realmente "bebido na fonte". Desta vez me vejo mais maduro e com mais experiência para ler o livro. E o mais importante, com mais disposição para terminar.

Entretanto, o tema deste post não é sobre minhas nada emocionantes tentativas de ler "A Origem das Espécies". Este post diz respeito a evolução, mas não na escala de tempo em que Darwin estava acustumado a trabalhar. Ainda em vida (1878), por pouco, Darwin quase foi testemunha do processo de evolução em curta escala de tempo. Um cientista amador, o reverendo William Dallinger, fez experimentos com cultura de "micróbios" em frascos com elevada temperatura (maior que 65 graus celsius). William tentava selecionar alguns micróbios que conseguiam resistir a essas temperaturas e criar uma cultura deles. Porém, o experimento foi interrompido quando o grande frasco no qual eram realizados os experimentos quebrou.

Em 1988, Richard Lenski reviveu este experimento, mas usando E. coli e controlando a disponibilidade de recurso (comida mesmo, mais precisamente glicose). E em um único dia, com poucos indivíduos, você pode obter milhares. O tempo de vida desta bactéria é muito curto, alguns poucos minutos. É claro que de um dia para outro não vamos encontrar diferenças, mas o cultivo contínuo em meio de cultura durante anos, pode gerar bilhões de gerações de E. coli. E aí que está o grande sacada. O gigantesco número de gerações aumenta enormemente a chance de mutações aleatórias. É como ocorreu, por exemplo, desde o ancestral em comum do homo sapiens e os gorilas (o que aconteceu por volta de 7 milhões de anos atrás), só que dentro de frascos e numa escala de tempo de anos.

Inicialmente, Lenski separou 12 linhagens e utilizou o mesmo tratamento para todas (ciclos de saciedade e fome). Sendo que toda semana, amostras são separadas e congeladas para servirem como um inventário. Isto é, seria como se congelassem parte de nossos ancestrais de gerações em gerações. E o porquê disso é simples: a possibilidade de rastrear as mutações aleatórias que foram os primórdios de uma característica nova. Comparando as novas gerações com as gerações mais antigas (45.ooo gerações de distância), as mais novas crescem 75% mais rápido e são duas vezes maiores . Porém as causas ainda não foram descobertas pelo grupo de cientistas.


Placas de petri com meio de cultura para o crescimento da E. coli


Estas diferenças já são muito marcantes e merecem muitos estudos para melhor explicá-las. Porém o mais surpreendente ainda está por vir. Uma das doze linhagens sofreu alguma mutação por volta da geração 31.000 que surpreendeu Lenski. Em meios em que o suprimento de alimento já tinha acabado, foi observado um grande crescimento bacteriano (ao invés de ficar translúcido, o meio apresentavam certa turbidez). Essa linhagem aprimorou ao longo de 14.000 gerações (45.000 - 31.000 = 14.000) a capacidade de se alimentar de citrato. Isto é muito interessante, pois a E. coli não é "normalmente" capaz de incorporar esta molécula. Mas o que trouxe de benefício esse novo comportamento? Essas bactérias precisam de pequenas quantidades de ferro para sobreviver, mas não são capazes de absorver átomos livre de ferro. E imaginem o que tem ligado ao citrato? Isso mesmo! Ferro. Desse modo, mesmo depois que a glicose do meio acabava, essa linhagem ainda era capaz de crescer devido a incorporação do citrato presente no mesmo meio.

O trabalho de Lenski agora é tentar observar quais foram as mutações inciais que permitiram que essa linhagem pudesse se alimentar, mesmo que pouco eficientemente, de citrato, mas que ao longo do tempo (14.000 gerações) foi aperfeiçoada. Esta característica possibilitou que essa linhagem (e somente esta, o que é o mais interessante) ter duas fontes de energia. Ao final desta etapa, Lenski vai poder dizer se uma nova espécie foi formada. Isso mesmo que vocês estão pensando! Evolução em alguns poucos anos! Imaginem o que Darwin diria!

Recomendo a leitura completa de um especial sobre os 200 anos do nascimento de Darwin aqui, onde essa história sobre E. Coli é contada por Carl Zimmer.

"Mudanças climáticas" ou "Aquecimento global"?



"Prova positiva do quecimento global". Fonte: Humor na ciência


Tanto na mídia quanto na blogosfera em geral esses dois termos são muitas vezes utilizados como sinônimos, o que está longe de ser verdade. Gostaria de contribuir com este post para acabar de uma vez por todas com a confusão gerada pela popularidade deste tema e explicar o porque deste humilde blog ter acatado o termo "Aquecimento global" como padrão de palavra chave.

O termo "Aquecimento global" é mais antigo e foi citado pela primeira vez em 1975 pelo geoquímico Wallace Broecker em um artigo para o periódico Science intitulado "Climatic Change: Are We on the Brink of a Pronounced Global Warming?". Antes deste artigo, o termo mais comum na literatura científica era "mudança inadvertida do clima". Isto porque na época ainda era muito controverso o papel do homem e dos aerosóis na mudança do clima. Enquanto o primeiro poderia liberar gases de efeito estufa na atmosfera (aumentando a temperatura global da Terra) o segundo poderia diminuir a temperatura global. O termo "mudança inadvertida do clima" só foi abandonado em 1979 devido a um estudo da NASA que revelou o papel do dióxido de carbono no clima. Vinte anos depois e ainda se sabe muito pouco sobre a influência dos aerosóis no clima, mas o efeito dos gases de efeito estufa no aumento da temperatura da Terra é pouco questionado.

Além de ter forçado o abandono do termo "mudança inadvertida do clima", o estudo da NASA de 1979 também introduziu pela primeira vez o termo "Mudanças climáticas". Quando ele se referia ao aumento da temperatura da superfície do planeta, utilizava o termo "Aquecimento global" e quando se referia aos efeitos do aquecimento global, ele utilizava o termo "Mudanças climáticas".

Já na década de 80 outro termo começou a ser utilizado, a "Mudança global", mas conquistou poucos seguidores. No final desta década, após o discurso ao congresso americano do cientista da NASA James E. Hansen, o termo "Aquecimento Global" se tornou realmente popular, sendo utilizado tanto pela mídia quanto em publicações científicas.

Fazendo uma busca rápida no Google Trends podemos entender a diferença brutal entre a utilização dos termos na internet.





Se procurarmos pelos respectivos termos em português, esta diferença é ainda maior. Veja que interessante o lag entre a utilização dos termos em inglês e português. Podemos ver claramente o atraso na resposta da utilização dos termos em português.





Então vem a pergunta do início do post. Porque preferimos utilizar o termo "Aquecimento Global" aqui no blog? A resposta não é tão simples, mas vamos tentar diferenciar os termos. Como este blog tenta dar uma visão científica dos temas ecológicos que normalmente não são bem tratatos pela mídia e pela blogosfera, a maioria dos posts relativos a este tema tratam de causas do aumento da temperatura global da Terra e a emissão de gases estufa. Resumindo, tratamos em grande parte da base científica das alterações recentes na atmosfera.

O termo "aquecimento global" refere-se a principal causa das iminentes alterações climáticas globais, o aumento da temperatura da Terra devido ao aumento do efeito estufa. As alterações climáticas regionais decorrentes deste processo são consequencias diretas e indiretas do aumento da temperatura média global. É claro que devemos tomar cuidado com mal entendidos. A média da temperatura global é que tende a aumentar como vimos em 2008. Diminuições regionais da temperatura podem ter acontecido como este caso na China, mas a média global tende a aumentar. Mas isso não pode ser um motivo para não utilizarmos este termo. Além disso, como Kevin Grandia escreveu no Huffington Post, não devemos esquecer que o termo "aquecimento global" é muito popular. Não utilizar este termo pode deixar bons textos sobre o tema esquecidos pela máquina de busca do google.

Quanto ao termo "mudanças climáticas", acho que ele ao mesmo tempo que se refere aos alterações decorrentes do aquecimento global, pode não dizer nada. Mudanças climáticas (mesmo as globais) são muito comuns na história do nosso planeta. Já um aquecimento global nas proporções previstas pelos últimos trabalhos e, principalmente, neste curto espaço de tempo, nunca foram vistas, nem pelas archea e bactérias.

Sendo assim, acho que a melhor construção de frase seria "As mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global...". Ou se você quiser ser mais direto ao ponto, escolha um dos termos, já que agora você aprendeu como utiliza-los.

Para ler mais sobre a polêmica destes termos, veja esta reportagem do The Huffing Post e este post do blog da NASA.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Souvenirs darwinianos


O biólogo-blogueiro canadense T. Ryan Gregory teve uma idéia ideia bem simples. Já que estamos no ano Darwin, porque não vendemos produtos temáticos? E melhor ainda, podemos reverter 50% do dinheiro para caridade e os outros 50% para o desenvolvimento de sítios sem fim lucrativos sobre evolução! Abaixo podemos ver exemplos do trabalho do Gregory. Com certeza dariam ótimas camisas e/ou adesivos para carro.


"Você está aqui"




Palavras do livro "A Origem das espécies" de Charles Darwin divididas por número de aparições, como em uma nuvem de tags.




"Evolução. Desde 1859".



Para ver mais ideias de logos inspiradas no ano Darwin, visitem o post original do Gregory.

PS.: Eu colocaria "Desde 1858" no terceiro logo ao invés de "Desde 1859". 1858 foi o ano em que o trabalho conjunto de Darwin e Wallace foi publicado, já 1859 foi o ano de publicação do "A Origem das Espécies". Tudo bem que é o ano Darwin, mas não vamos esquecer do Wallace!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Descoberto novo padrão de camuflagem na Amazônia




Não confundir com mimetismo...

Direto do blog do Scabini.