quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Os lemmings não se suicidam mais?

Foto: Nature

Os lemmings são pequenos roedores encontrados nas regiões árticas, habitam as tundras. Estes pequenos animaizinhos são bastante famosos pelos freqüentes “suicídios” em massa. O porquê das aspas é o seguinte: estes animais são capazes de viver sob a neve durante todo o inverno, se alimentando basicamente de musgos. Mesmo assim, as fêmeas são capazes de gerar mais de três ninhadas por ano (com aproximadamente 12 filhotes em cada uma). Deste modo, em épocas com pouca mortalidade de jovens é gerada uma superpopulação destes animais e, com isso, a disponibilidade de alimentos diminui drasticamente. Desesperados por comida, alguns desses animais mergulham procurando qualquer coisa para comer. Esta ação coletiva criou o mito do suicídio em massa, mas na verdade é o desespero da fome.



Documentário da Disney de 1958 que mostra o "suicídio". Dizem que a cena do pulo foi armada


Entretanto, a ocorrência desta natação coletiva a procura de comida tem diminuído drasticamente nos últimos 15 anos. Muito tem sido debatido sobre as possíveis causas disto: flutuações na predação, disponibilidade e qualidade de alimentos e variabilidade climática. No último volume da revista nature, Kausrud e colaboradores analisaram uma série climática dos últimos 27 anos e observaram episódios anômalos de neve. Isto associado com temperaturas mais altas impede a formação de um espaço entre a camada de neve e o solo, às vezes formando até uma camada sólida de gelo, impedindo os pequenos roedores de se alimentar do musgo. Assim, episódios de superpopulação tem se tornado menos freqüente e, com isso, as maratonas aquáticas dos roedores.


Crédito: Steve Colgan


Além disso, com essa menor abundância, outras populações estão sofrendo também. Grandes carnívoros (como as raposas) que antes se alimentavam desta superpopulação estão agora passando por períodos de escassa disponibilidade de alimento. Deste modo, estão sendo indiretamente afetadas pelas atuais mudanças climáticas globais. Isto nos reforça a idéia de como interligados são os componentes de nosso planeta. Ainda temos muito que pesquisar para começarmos a entender melhor como os diferentes ecossistemas funcionam. E é por isso, que eu gosto do que faço. O prazer de entender algumas destas relações me fascina.

Obs: Ok, ok, depois de reler este último parágrafo, me pareceu um pouco sentimental de mais.rs


Referências:

Coulson, T. and A. Malo. 2008. Population biology: Case of the absent lemmings. Nature 456:43-44.

Kausrud, K. L., A. Mysterud, H. Steen, J. O. Vik, E. Ostbye, B. Cazelles, E. Framstad, A. M. Eikeset, I. Mysterud, T. Solhoy and N. C. Stenseth. 2008. Linking climate change to lemming cycles. Nature 456:93-97.

Transferência horizontal em eucariotos: Lamarck sorri em seu túmulo



Jean Baptiste Lamarck: "Eu já sabia!". Crédito: wikipedia


"Evolução coletiva" é uma expressão cunhada por Carl Woese em um artigo de 2006. Ela refere-se a influência da transferência horizontal de genes em microorganismos no processo de evolução como um todo. Este mecanismo não-darwiniano pode transferir genes sem o artifício da reprodução (transferência vertical), sendo muito comum em bactérias e archea. A introdução destes conceitos na teoria da seleção natural sempre foi muito controversa e, depois do artigo publicado na última PNAS, ficará ainda mais interessante. Como todos sabemos, a transferência lateral de genes é restrita a microorganismos, não é? Bem, talvez não tão restrita assim. Segundo John Pace II e colaboradores, este mecanismo pode ocorrer até em mamíferos.

No artigo intitulado "Transferência horizontal repetida de transposons de DNA em mamíferos e outros tetrápodos", John Pace II e colaboradores compararam seqüencias de transposons (segmentos de DNA) de vários animais, incluindo ratos, morcegos e até marsupiais. De forma surpreendente, os pesquisadores encontraram seqüencias idênticas em 8 espécies de animais. Como estes grupos não são diretamente relacionados na árvore filogenética, como que estes segmentos de DNA altamente conservados foram trocados entre estas diferentes espécies? Segundo Cédric Feschotte, um dos co-autores do trabalho, o mecanismo mais provável que seria responsável por essa transferência horizontal de trechos de DNA seriam as infecções virais. Como estes trechos de DNA seriam introduzidos nos animais estudados através de vírus, os autores do artigo deram o nome sugestivo de SPIN (space invaders) aos transposons.

Bem, se ainda existiam alguns resistentes a rediscutir Lamarck, acho que agora não resta mais motivos para isso. Tenho certeza que mecanismos evolutivos não-darwinianos agora ganharam um novo argumento.

O blog RNAse Free comentou a parte genética do assunto.


O grande monstro verde



"Ajude a acabar com a caça das baleias!", diz a frase piegas escrita no gelo. Crédito: mym


O Greenpeace anunciou esta semana que não enviará barcos para combater as frotas baleeiras do Japão este ano. "Como co-fundador do Greenpeace, estou muito ofendido devido ao fato do Greenpeace levantar milhões de dólares pela defesa das baleias durante todo o ano e agora, duas semanas antes da frota baleeira japonesa entrar em operação, eles anunciam que não irão", disse Paul Watson. "(...) eles coletam fundos sob falsos pretextos e agora eles abandonaram as baleias." Em um comunicado oficial, o Greenpeace afirmou que eles não irão enviar barcos para o Japão porque acham que podem impedir os baleeiros antes mesmo deles saírem do cais. (se é tão fácil, porque não fazem isto desde 1970?)

O autor da frase acima, Paul Watson, foi expulso do Greenpeace em 1978. O principal motivo alegado foi que ele não compartilhava dos princípios de não violência da empresa organização. Em uma entrevista à revista super interessante Paul Watson já afirmava há quase uma década:

"Hoje o Greenpeace é uma corporação burocrática que arrecada 200 a 300 milhões de dólares por ano e está mais interessada em levantar dinheiro vendendo produtos do que em salvar a Terra. Os ativistas deixaram a entidade, que foi tomada por burocratas, contadores e advogados. Nas campanhas, eles mostram fotografias de 20 anos, porque não têm nenhuma nova. Me sinto como o doutor Frankenstein criei o grande monstro verde. Eu os chamei, numa entrevista, de garotas-Avon do movimento ambientalista, porque vão de porta em porta pedindo dinheiro. Nunca me perdoaram por isso."

Gostei do termo "Grande monstro verde". Não afirmo que o greenpeace não faça nada de relevante, mas se você colocar no google o termo "Greenpeace critica" (entre aspas mesmo), temos mais de 16.100 resultados. Eles criticam tudo e todos, tendo sempre a cobertura da grande mídia. O consultor em tecnologia Daniel Eran afirma que um relatório feito pelo Greenpeace em 2006 para denunciar a Apple e a HP era mentiroso e negligente. Este é só um exemplo dentre tantos outros que mostram o outro lado desta grande organização. Como "ser verde" está na moda, criticar organizações ambientalistas fica fora de pauta na grande mídia.

Vi no blog The Great Beyond.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ambientalismo com humor

O Canal Animal planet (que faz parte do grupo Discovery) exibiu este ano uma série de 10 curtas animados mostrando como animais poderiam salvar o planeta. Quem assina esta produção são os renomados criadores da série Wallace & Gromit, que fez sucesso no mundo todo. Além das animações em massinha, o Animal Planet teve o cuidado de fazer um sítio muito bom, cheio de extras. Seguem abaixo os meus três vídeos favoritos.


"Vacas gasosas"

A emissão de metano por ruminantes representa cerca de 28% da emissão total de metano em atividades relacionadas a seres humanos. Número bem significativo, já que este gás apresenta um potencial estufa 20 vezes maior que o gás carbônico.


"Pinguim eficiente em energia"


Lâmpadas fluorecentes são cerca de 6 vezes mais eficientes do que as lâmpadas incandescentes tradicionais. Confira no sítio do INMETRO.


"Cachorro em stand by"


Entre 10 e 15% do consumo de energia elétrica de residências nos EUA é creditado ao modo stand by de aparelhos eletrônicos. No Brasil o INMETRO já começou a trabalhar neste sentido, sendo todos os fabricantes de televisores de tubo obrigados a terem um selo que mostra a eficiência de cada aparelho em modo stand by. Independente do consumo, eu sou muito parecido com o cachorro da animação. Não consigo dormir quando tem alguma luz de stand by ligada no quarto.


Esta série de animações de ótimo gosto do Animal Planet mostra como podemos passar uma idéia de conservação sem ser "eco-chato". Este é o caminho que o ambientalismo não seguiu. Uma pena.

Vi no O Velho.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

IX Congresso de Ecologia do Brasil





Foi anunciado via mala direta a abertura dos trabalhos do IX Congresso de Ecologia do Brasil que será realizado em São Lourenço (Quanto criatividade! O último foi em Caxambu, 30 Km de São Lourenço), sendo organizado pela Sociedade de Ecologia do Brasil. O tema deste ano é "Ecologia e o Futuro da Biosfera" (um pouco piegas, não?).

Segundo a organização, a novidade deste ano é a divisão do congresso em duas etapas:
  • A primeira etapa será destinada a pesquisadores e alunos de pós-graduação. Acontecerá nos dias 11 a 13 de setembro de 2009.
  • A segunda etapa será destinada à comunidade científica em geral e acontecerá nos dias, 13 a 17 de setembro de 2009.
As inscrições serão de 01/01/09 a 31/08/09. O Envio de resumos de 01/01/09 a 31/05/2009. O sítio do evento estará disponível a partir de janeiro de 2009. A organização ainda pede sugestões de temas para palestras, mesas redondas e mini-cursos, além de indicações de palestrantes. Essas sugestões e outras informações do evento podem ser enviadas para o emaio: edisa@ib.usp.br.


UPDATE (17:38)

Alguem me explica o que significa o logo da Sociedade de Ecologia do Chile?


domingo, 2 de novembro de 2008

Anfíbios, pesticidas e fertilizantes: Uma interação complexa


A algum tempo cientistas de todo mundo têm observado um desaparecimento de várias espécies de anfíbios. Muito tem sido discutido sobre as causas destes fenômeno de extinção em massa. Até o aquecimento global já foi sugerido como possível causa.




Em um outro contexto, mas ainda falando sobre anfíbios, cientistas têm relacionado o uso de pesticidas com o supressores imunológicos. Ao analisarem brejos próximos a fazendas, foi encontrado uma maior incidência de animais infectados por fungos patogênicos, quando comparados com brejos sem a influência de fazendas (ScienceNOW).

Recentemente, pesquisadores da Universidade de Illinois observaram uma outra influência negativa das fazendas sobre os anfíbios. Eles observaram que fertilizantes usados nas plantações e que eram lixiviados até brejos próximos estimulavam o crescimento algal destes corpos d'água. Entretanto, estas algas servem de alimento para caramujos que são fonte alimentares dos anfíbios. Só que, quanto mais caramujos, maiores são as chances deles serem infectados por platelmintos chamados trematodos. Estes vermes parasitas de caramujos aumentam a mortalidade dos anfíbios. Isto ocorre, pois ao se alimentar destes animais contaminados, os anfíbios são infectados pelos vermes. Eles afetam os rins dos anfíbios, além de deformar seus membros.

Assim o sistema imunológicos debilitado por causa dos herbicidas e a maior densidade de trematodos (causada indiretamente pelos fertilizantes) atuam em conjunto na maior mortalidade de anfíbios. Assim, não basta desenvolvermos medidas de mitigação somente para pesticidas (o que é mais óbvio), mas devemos agora levarmos em consideração a possível influência dos fertilizantes no ambiente natural.

Fonte: ScienceNOW

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