sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Como tartarugas lembram onde nasceram?



"É muito fácil chegar lá em casa. Pegue a trigésima ilha à esquerda depois daquela ilha vulcânica, siga uns 500 Km...". Crédito: nadi0


Este mistério que persegue cientistas há décadas ganha mais uma proposta. Segundo o biólogo marinho Kenneth Lohmann a resposta está nos campos magnéticos. "O que nós estamos propondo é que tartarugas (...), quando nascem, basicamente aprendem ou têm marcado de alguma forma o campo magnético da sua área de nascimento.", disse o biólogo marinho ao National Geographic News.

O experimento feito por Lohmann foi interessante. Ele alterou o campo magnético de uma área fechada de água onde as tartarugas estavam e precebeu que a direção para onde elas nadavam mudou. Este experimento mostra que campos magnéticos podem alterar a natação de uma espécie de tartaruga, mas não mostra se este fator tem um efeito no movimento migratório de tartarugas. Para provar o efeito de alteração do campo magnético na migração destes animais seria necessário um experimento muito mais complexo, onde as tartarugas seriam rastreadas e testadas em mar aberto. O artigo que descreve o experimento feito por Kenneth Lohmann será publicado no periódico PNAS.

Vi no 80beats, um blog da revista DISCOVER.


quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Ainda sobre as enchentes

Semana passada falei um pouco sobre o histórico de enchentes em Santa Catarina, o que eu chamei de "mais do mesmo". Esta semana o Olhar Virtual (publicação da coordenadoria de comunicação da UFRJ) publicou uma entravista com Jorge Xavier, chefe do departamento de Geografia da UFRJ. Ele faz uma crítica à mídia que dá aos fatos um tom de novidade, quando na verdade o que temos é uma repetição. Selecionei abaixo alguns trechos da entrevista.

"A fim de mitigar os efeitos de uma chuva de grande porte, devem ser criados planos de contingência, isto é, um levantamento prévio dos locais que podem ser atingidos, uma avaliação de prioridades no que diz respeito à aplicação de recursos e de tempo e um estudo prévio da distribuição dos recursos caso o acidente seja inevitável. (...) diante de uma tragédia como essa, considero válido o envio de verbas feito pelo Governo Federal. Mas devemos ter em mente que esse dinheiro está sendo mal aplicado. Ele deveria ser empregado em ações preventivas. É preciso que os governantes deixem de agir apenas em situações críticas, quando não fazer nada significa uma perda política."

Acho que o Jorge Xavier citou um ponto crucial. Esta semana o prefeito do Rio anunciou o investimento de mais de 10 milhões de reais em um plano de prevenção de enchentes, intitulado "Plano Diretor de Manejo de Águas Pluviais". Medidas como cadastro de 900 quilômetros de rede de drenagem, a inspeção de 1.500 quilômetros de rios e galerias e a aquisição de 40 estações hidrológicas estão previstas. Tirando a questão política de que o vencedor da licitação será anunciado apenas 2 dias antes do fim do mandato do prefeito, acho que medidas como essa são válidas. Botar a culpa de tudo isso no aquecimento global é fácil. O Carlos Nobre apareceu em vários jornais para falar sobre isso. Esse tipo de notícia dá muita audiência. Investir em prevenção é muito mais complicado e, com certeza, não dá audiência.

No final da entrevista, o professor Jorge Xavier lembra do papel de pesquisadores, governo e mídia neste tipo de caso.

"(...) para que tragédias desse tipo não voltem a acontecer é preciso haver uma ajuda mútua entre os pesquisadores e o governo. E também é necessário que a mídia esteja sempre nos lembrando dos efeitos dessa ocorrência evitando que os erros do passado se repitam, no futuro."

Para ver a entrevista completa, leia a reportagem de Lorena Ferraz para o Olhar Virtual.


UPDATE
(12:36 - 05/12/08)



No meio de uma conversa com a Paula sobre a tragédia em Santa Cararina, descobri uma coisa interessante. A famosa Oktoberfest de Blumenau teve origem em um outro evento catastrófico. Vocês conseguem saber qual foi? Uma enchente! Abaixo um trecho sobre a história do evento.

"A Oktoberfest de Blumenau teve sua primeira edição em 1984, logo após a grande enchente em Blumenau, em 1983 Blumenau foi quase totalmente destruída pelas águas do rio Itajai Açu. Inundadas até os telhados, na vazante as casas eram apenas restos enlameados das até então belas casinhas com jeito europeu, caiadas e com cercas cuidadas, muitas flores e frontais de madeira envernizada. Demorou um bom tempo até que a cidade pudesse voltar à uma certa normalidade, com o apoio da prefeitura e do governo do Estado. Mas cada chuva se transformava em uma ameaça. Em 1984, antes mesmo que a cidade estivesse funcionando normalmente, uma nova enchente, de proporções maiores para uma cidade ainda em recuperação da enchente anterior, destruiu Blumenau. "Completamente", dizem alguns blumenauenses. "Menos a coragem do povo", dizem outros..."

Para ler mais sobre a famosa Oktoberfest de Blumenau, entrem aqui.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Duas espécies no mesmo nicho?

Cada espécie ocupa um lugar no espaço. Esse espaço pode ser o espaço físico (dois corpos não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo), porém existem outras dimensões deste espaço. O espaço ocupado no que se refere a exploração preferencial de um recurso, por exemplo. Ou o espaço ocupado pela a área de vida ótima. Esse espaço não é somente um aspecto físico, mas também um aspecto biológico, químico e até comportamental (ouso a falar, psicológico), isto é, cada recurso requerido pela espécie contará com uma dimensão desse hipervolume. Então dizemos que nicho é o espaço n dimensional (quanto mais você pesquisar, mais aspectos serão descobertos como sendo característicos de uma espécie, sendo assim, mais dimensões) onde uma espécie pode sobreviver, crescer, reproduzir e manter uma população viável. Com isso, podemos concluir que existe competição entre espécies quando alguma dessas dimensões são exploradas concomitantemente. Ambas necessitam do recurso, assim, a espécie que melhor explorar este recurso, sairá vencedora.

Este tipo de definição de nicho é chamada de nicho Hutchinsoniano, em homenagem a George Evelyn Hutchinson. Foi este importante zoólogo americano que propôs essa definição de nicho. Ele é considerado o pai da Limnologia moderna e faleceu em 30 de maio de 1991. Eu, Breno, por coincidência, fiz minha inciação científica e mestrado na área da Limnologia.


Semelhança entre espécies diferentes de borboletas



Na última edição da PLoS Biology, um grupo de pesquisadores mostrou que algumas espécies de borboletas que desenvolveram padrões similares de asas (o que alerta aos seus predadores que elas não possuem sabor muito bom, podendo até serem venenosas) não são próximas evolutivamente. Isto quer dizer que o ancestral comum entre elas é bastante afastado. Indicando que a similaridade não foi uma questão de ancestralidade e sim de adaptação evolutiva. Além disso, eles descobriram que borboletas que apresentam esses padrões de asas semelhantes possuem nichos bastante semelhantes também (por exemplo, voam nas mesmas alturas e preferem o mesmo tipo de vegetação). Os pesquisadores alegam que este comportamento maximiza os benefícios da aparência similar (se aproveitam do fato da possibilidade predadores aprenderem que elas não são palatáveis).

Deste modo, não somente a competição entre espécies pode atuar como fator primordial para a evolução, mas outros tipos de interações (como as mutualísticas) têm importante papel neste fenômeno.

Mas é importante lembrar aqui, que vale uma questão para pensar. Como eu disse, quer dizer, como Hutchinson disse, o nicho é n dimensional. Será que estas espécies parecidas dividem todas as dimensões (ou recursos) do nicho delas? Será que pesquisamos o suficiente para saber tudo o que influencia no sucesso destas espécies? Bem, acredito que não. Acredito que nuances desta sobreposição de nicho não são possíveis de se observar (por enquanto), daí as relações mutualistícas e não a competição. Pois por mais que possam compartilhar o mesmo tipo de floresta, a diversidade de fontes alimentares é enorme. Ou mesmo que a fonte alimentar seja a mesma, se explorarem em horários diferentes, podem nunca se esbarrar. E assim, não precisam competir. É..., questões a se debater....

Fonte: Eurekalert!

Referência:
Elias M, Gompert Z, Jiggins C, Willmott K (2008) Mutualistic interactions drive ecological niche convergence in a diverse butterfly community. PLoS Biol 6(12): e300.doi:10.1371/ journal.pbio.0060300