sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Aluno de pós-doc tenta envenenar colega de trabalho



Recado suspeito. Crédito: passiveagressivenotes


Segundo o blog da revista The Scientist, este caso ocorreu no Departamento de Urologia na Universidade da Califórnia. O aluno de pós-doc Benchun Liu admitiu à polícia local que tentou envenenar o seu colega de trabalho Mei Cao não só uma, mas duas vezes. Na verdade a polícia só descobriu o fato porque o potencial assassino contou à vítima sobre o ocorrido, depois da segunda tentativa. Mei Cao realmente chegou a tomar o "veneno", mas não sentiu nenhuma reação adversa. Mesmo assim foi levado para o hospital onde ficou em observação.

Benchun Liu em nenhum momento deu alguma explicação pessoal para o fato, dizendo apenas que estava "muito estressado". Fica a dica para todos os orientadores que acompanham este blog. Nunca aceite um copo d´água de um aluno sem pensar duas vezes.

Fonte: The Scientist blog.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Microalgas que não fazem fotossíntese


O título deste post não é um paradoxo. Oceanógrafos da Universidade de Santa Cruz, Califórnia descobriram um novo grupo de algas cianofíceas (mais conhecidas como cianobactérias) que não apresentam boa parte dos genes necessários para o funcionamento do fotossistema II e para a fixação de carbono, essenciais para o processo de fotossíntese tanto em cianobactérias quanto em plantas superiores. O estudo foi publicado semana passada no periódico Science.

O mais interessante deste caso é o papel ecológico deste grupo. Inicialmente alguém poderia perguntar: "Mais isso deve ser uma aberração. Este grupo não teria sucesso já que não teria como obter matéria orgânica". É aí que o assunto começa a ficar interessante.

Mesmo sendo o principal constituinte da nossa atmosfera (quase 80%), o nitrogênio gasoso (N2) não é assimilável pela maior parte dos organismos. O N2 pode ser fixado por bactérias do gênero Rhizobium, que vivem em nódulos de raízes de plantas leguminosas, e, principalmente, por cianobactérias. O processo de fixação biológica do nitrogênio (FBN) requer uma energia de ativação muito alta, desta forma está longe de ser um processo espontâneo. Além deste pequeno problema, uma das grandes restrições da FBN é a fragilidade da enzima catalizadora. A nitrogenase é altamente sensível à presença de oxigênio, que pode destruir de forma irreparável a enzima. Uma pergunta bem coerente seria: "Como uma microalga poderia realizar um processo onde a enzima catalizadora é muito sensível ao oxigênio?". A seleção natural deu um jeito neste pequeno problema. Alguns grupos de cianobactérias filamentosas que fixam nitrogênio gasoso apresentam uma célula chamada heterocisto, que cria um ambiente microanaeróbico onde a enzima nitrogenase pode trabalhar sem sobressaltos.



Heterocisto (parte central da foto) de Anabaena sperica. Crédito: Wikipedia


Mas nem todos os grupos de cianobactérias têm heterocistos. Desta forma, a maior parte só consegue fixar nitrogênio a noite, quando não estão fazendo fotossíntese. Acho que agora ficou mais fácil de entender qual seria o papel ecológico deste grupo de cianobactéria. A falta de genes que são essenciais para a realização do processo de fotossíntese fez com que este grupo passasse a fixar nitrogênio durante o dia todo, mesmo sem uma estrutura especializada para proteger a nitrogenase. Sendo um grupo muito abundante em oceanos, a taxa de fixação de nitrogênio total neste ambiente pode sofrer um acréscimo considerável, tendo grande relevância ecológica. Quanto ao problema do grupo de microalgas descoberto não ter uma fonte de carbono devido a não realização da fotossíntese, existem duas hipóteses principais: essas microalgas podem estar se alimentando de alguma forma diretamente de matéria orgânica (como já ocorre em outros grupos) ou em simbiose com algum outro organismo.

Acho incrível como um processo de tamanha importância evolutiva como a fotossíntese pode ter sido "esquecido" por este grupo de algas. Tentem imaginar o tamanho da pressão seletiva para um grupo de cianobactérias ter se mantido, reproduzido e tornar-se dominante em seu ecossistema sem realizar um processo que alterou de forma marcante a vida em nosso planeta, tendo evoluído a mais de 2 bilhões de anos atrás.

Outras informações de forma bem palatável sobre o artigo podem ser vistas na ScienceNOW e no Eurikalert!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Caminhos de Darwin no Rio de Janeiro





"Em comemoração aos 200 anos do nascimento de Charles Darwin e pelos 150 anos de publicação de seu livro clássico 'A Origem das Espécies' o Ministério da Ciência e Tecnologia e instituições científicas do Rio de Janeiro estão organizando a 'Expedição Caminhos de Darwin', que contará com a presença de seu tataraneto, Randal Keynes, e percorrerá o mesmo caminho que fez o naturalista quando esteve no Rio de Janeiro, em 1832. Prevista para os dias 26, 27, 28 e 29 de novembro, a expedição envolverá 12 municípios e terá a participação de cientistas, professores, alunos e jornalistas.

Durante a viagem serão inauguradas placas comemorativas, com mapa do Estado sinalizando o trajeto de Darwin e observações do seu diário sobre o referido lugar. Palestras de divulgação científica sobre o que o naturalista observou em cada local, exibição de vídeos, exposição, apresentação das espécies citadas em seu diário e do hino nacional cantado em Tupi Guarani por alunos de Araruama, estão entre as atividades previstas nas inaugurações.

A expedição também ressaltará a importância da viagem do naturalista para a ciência e para a preservação do patrimônio histórico e geológico da região. Ela terá o seguinte trajeto: Rio de Janeiro (Jardim Botânico), Maricá, Saquarema, Araruama, São Pedro da Aldeia, Fazenda Campos Novos (Cabo Frio), Barra de São João, Macaé, Conceição de Macabu, Rio Bonito, Itaboraí e Niterói."


Para saber mais sobre o evento, veja o flyer com as datas e lugares onde serão realizadas as intervenções.

Para saber mais informações tanto sobre o evento deste ano, quanto sobre a passagem de Darwin pelo Rio de Janeiro em 1832, visite o bem elaborado sítio do evento.


PS.: O texto é uma reprodução do vinculado pelos organizadores do evento. Gostei muito da idéia da placa com o trajeto, citações do texto original, etc. Mais porque diabos os alunos de Araruama vão cantar o hino nacional em Tupi Guarani?


terça-feira, 18 de novembro de 2008

Qual o valor de um projeto científico?


Hoje de tarde, ao ler a Nature News me deparei com uma notícia que discutia financiamento de pesquisas científicas. O foco dela era um experimento nos EUA que simulava o crescimento de florestas em uma atmosfera com 550ppm de CO2. Em um primeiro momento, achei muito interessante pois era um experimento enorme (realizado na própria floresta), porém no meio da leitura me deparo com as cifras do projeto. Eram duas localidades analisadas, sendo que em uma eram gastos $3 milhões de dólares (sendo $900.000 somente com o contínuo acréscimo de CO2 na atmosfera e com a engenharia do projeto) e no outro eram gastos $2 milhões de dólares, sendo que a escala de tempo era anual! (isto mesmo, $5 milhões de dólares por ano!)

Parei, pensei e analisei a situação brasileira. Por exemplo, vejo alguns institutos de pesquisa aqui da UFRJ com grandes projetos, alguns custando milhões de reais. Desenvolvimento de tecnologias envolvendo a exploração do petróleo são extremamente incentivadas, bem como o estudo de doenças genéticas extremamente raras na população. Todas estas pesquisas são de grande importância, não existe o que discutir sobre isto.

Indo um pouco mais além, vejo laboratórios super modernos, com equipamentos de milhões de dólares (microscópios eletrônicos, seqüênciadores, pirosequenciadores, espectrômetros de massa e outros), porém outros laboratórios o equipamento mais caro é o computador ou algum outro aparelho que não chega nem ao custo de operação mensal de alguns destes super equipamentos. Claro, algumas pesquisas não necessitam de aparelhos mais refinados, e nem por isso são menos importantes. Toda vertente científica tem seu valor intrínseco. O conhecimento não tem preço. Porém porque o orçamento de alguns laboratórios varia por volta de R$10.000 e outros por volta de milhões de reais?

A questão que quero chegar é que vejo algumas áreas da pesquisa científica sendo super valorizadas. Grandes somas de recursos são destinados a elas, mas será que isso é de extrema importância para o lavrador que mora no interior do nordeste? Deciframos o genoma humano, mas ainda sofremos com surtos de dengue, malária e outros. A doença de Chagas ainda mata milhares de pessoas. Indo mais além, queremos analisar como crescerão as florestas com uma atmosfera com 550ppm de CO2 na atmosfera, mas talvez antes disso não teremos mais a nossa Mata Atlântica.

Na minha humilde opinião observo que os recursos são distribuídos de maneira tendenciosa. Moda? Foco na mídia? Melhores publicações? Importância do chefe do laboratório dentro da universidade? Valorização de pesquisas parecidas com as feitas nos países desenvolvidos? Não posso dizer que é uma coisa só. São várias ao mesmo tempo.

Precisamos valorizar a pesquisa nacional, pesquisa para os nossos problemas (ambientais, sanitários, o que for). É claro que temos que participar de pesquisas de ponta, nosso país precisa disso. Porém não podemos canalizar a maioria dos financiamentos para estas frentes. Não podemos querer ficar imitando pesquisas de países desenvolvidos. Nossas crianças ainda morrem por desnutrição, milhares de pessoas não tem atendimento médico nem acesso a educação.

É... nós cientistas dentro de nossas salas com ar-condicionado devemos ter consciência da nossa responsabilidade. A sociedade investe grandes cifras em nós para melhorarmos a sua qualidade de vida. Será que estamos fazendo isso? Será?

PS: Será que eu deveria estar lendo a Nature News? Ou alguma revista nacional? rs

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Meteorologia com plantas


Início do período de monções em Mui Ne, Vietnã. Crédito: Peter Grevstad


Pesquisadores americanos mostraram que a determinação da cobertura vegetal pode ser um fator tão importante quanto fatores mais tradicionalmente utilizados na previsão de monções no leste asiático. O crescimento vegetal tem uma forte influência na umidade do solo, devido à alteração da taxa de evaporação. Quanto maior a umidade do solo, maior é a transferência de calor entre a terra e o ar. Desta forma, a cobertura vegetal tem uma influência indireta na quantidade de calor que chega no ar do ambiente terrestre que, associada as fontes de calor do oceano, têm grande influência na previsibilidade deste fenômeno climático. A utilização do parâmetro cobertura vegetal associado aos mais tradicionais chega a até triplicar a habilidade preditiva dos modelos de previsão de monções.

Incrível como uma alteração em escala espacial tão reduzida como em uma relação planta-solo pode alterar o clima em uma escala regional.

Vi a notícia na última Nature.