segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Como NÃO fazer divulgação científica em rede nacional

"O que chamamos de divulgação científica é o reflexo de um modo de produção de conhecimento restringido e, consequentemente da constituição de um efeito-leitor específico relacionado à institucionalização, profissionalização e legitimação da ciência moderna, e que opõe produtores e usuários/consumidores e, cria a figura do divulgador, que viria, imaginariamente, restabelecer a cisão, e minimizar a tensão instaurada ao longo da história no tecido social da modernidade. Essa cisão não é mantida sem tensão, sem a (re)produção tensa de um imaginário que a mantém. É nesse imaginário que trabalha a divulgação científica."


Henrique César da Silva. 2006.
O que é divulgação científica?
Revista Ciência e Ensino


Entendi que devemos tentar minimizar a tensão entre o público leigo e o meio científico. Que devemos restabelecer esta cisão formada ao longo da história. Mas acho que os repórteres da Globo estão pegando pesado. Depois de mostrar para os futuros professores de biologia como NÃO se deve ensinar seleção natural para seus alunos, a segunda parte do seu especial sobre os 200 anos de Darwin chegou ao ponto extremo (pelo menos até aqui, pois ainda faltam 2 partes).

Depois de 21 minutos de programa com uma qualidade razoavelmente interessante, entrevistas (superficiais) com filósofo Daniel Dannet (autor do livro "A Perigosa ideia de Darwin") e com o biólogo Richard Dawkins (que dispensa apresentações), temos um furo muito comum em documentários desta natureza. Depois de 21 minutos sem intervalo de pouco muito conteúdo, o que devemos fazer para manter o público interessado? Fazemos uma analogia sem contexto e que, com certeza, além de errada, não trás nem de longe algum acréscimo de informação. Uma pena. Vejam com os seus próprios olhos.





"Agradecer" a seleção natural? Um "cordão nervoso" ao longo de milhares de gerações deu uma nova função a boca? E isto explica porque beijar é tão bom ? Pelo amor de Darwin. Não tinha nada melhor para fechar um especial sobre os 200 anos de um dos maiores cientistas da nossa história ?

Se isso é divulgação científica, com certeza estou muito longe de fazer isso. E quero continuar assim. Depois dessa experiência marcante, gostaria de convocar todos os biólogos a dedicarem parte ou grande parte do seu tempo a divulgar ciência. Precisam de nós. E com urgência.


Referência:

Henrique César da Silva. 2006. O que é divulgação científica? Revista Ciência e Ensino 1(1): 53-59. Link para o artigo.

6 comentários:

  1. ou divulgam mal, ou divulgam nada, será que não fazem uma pesquisadinha básica com pesquisadores antes de fazerem os programas? ou eles "moldam" o assunto para torna-lo mais atrativo?
    qualquer seja a resposta, deveriamos arregaçar as mangas dos jalecos...

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  2. Concordo plenamente Felipe. Acho que os nossos blogs são o início deste movimento. Mãos a obra!

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  3. Estou de acordo contigo. Ma divulgação so vai dar maus resultados.

    E aquelas noticias tipo, "investigador X descobriu a cura para o cancro", ou "já existe teletransporte". Ás vezes até chamam a atenção para descobertas interessantes mas que estão longe das alegações iniciais. Fazem mais estragos do que bem. Penso que o publico percepciona isso como sendo alegações da própria ciencia.

    Tal como no exemplo que dás, misturar vários niveis de rigor da a ideia que é tudo ciencia e que a ciencia tira aquelas conclusões. O salto logico- no exemplo que dás -é brutal.

    Alguma liberdade linguistica e poetica deve ser permitida mas desde que seja para transmitir melhor os conceitos.

    A minha humilde opinião é que simultaneamente com uma informação mais rigorosa se deve estimular o espirito critico. O espirito critico é algo que a ciencia não teme e que a mantem de pé. Acho que nesse campo precisamos de uma ajuda dos filosofos.

    Em relação ao movimento bloguista, eu tambem acredito nele. O "outro lado" está a fazer o mesmo. É preciso mostrar que o nosso lado é mais consistente e completo como explicação do universo.


    Votos de um bom trabalho,

    Joao

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  4. Grande João, obrigado pela excelente contribuição ao post.

    Devemos ensinar o público a ter pensamento crítico. Em dias de internet, o conhecimento está acessível a grande parte da população. Mas selecionar o que é "certo" ou "errado" não é tão simples.

    Abraços e até a próxima.

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  5. Louvo tua iniciativa de abrir um espaço crítico ao que se veicula sobre Ciência, mas me preocupa o exagero e, mais ainda o despreparo de quem escreve. A frase correta seria ("dispensa comentários"). A palavra DESPENSA é usada para designar lugar onde se armazena gêneros alimentícios. E, " Será que não fazem uma pesquisadinha com pesquisadores..." foi de doer, viu? Concordo que a analogia não foi acertada, mas para criticar, você precisa ser melhor. Afinal, você é Cientista e eles, Jornalistas. Quanto a utilizar o material em aula, todo bom professor sabe como destacar os pontos positivos e contornar os negativos em um material de apoio.
    Em tempo, sou Bióloga e não professora de Língua Portuguesa.
    Profª Rosa Maria - Rio das Ostras

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  6. Olá professora Rosa Maria, tudo bem?

    Muito obrigado pela suas correções. Tento sempre escrever no blog com muito cuidado com a linguagem, mas a falta de tempo é, com certeza, um dos meus principais problemas. Com certeza isso não pode ser uma desculpa. Tentarei ter mais cuidado na revisão dos posts. Quanto a "pesquisadinha" eu realmente não encontrei no texto, me desculpe.

    Quanto a crítica, gostaria de discutir 2 pontos.

    Primeiro, faço uma crítica quanto ao conteúdo científico do programa da globo. Neste sentido, tenho sim toda a bagagem necessária para isso. Se você considera essa bagagem no sentido de "ser melhor", a decisão é sua. Para fazer um programa deste porte tenho certeza que eles não colocaram apenas 1 jornalista, que fez, revisou e publicou o texto. E é exatamente isso que eu faço no meu blog, dedicando parte preciosa do meu tempo.

    Segunda, ser melhor ou pior é sempre relativo. Não falei que o jornalista teve erros de português no texto do programa. Falei que ele teve erros em relação ao tema o qual eu me dedico profissionalmente. Desta forma, acho que não sou "pior" do que ele em relação ao conteúdo científico do blog. Tenho certeza que pequenos erros de português não tiram o meu mérito na discussão do tema em questão. Procuro sempre minimizar estes erros, o que nem sempre funciona.

    Acho que argumentar que "todo bom professor sabe como destacar os pontos positivos e contornar os negativos em um material de apoio" é aceitar que o material é ruim e que não pode ser alterado. Eu, pelo contrário, acredito que podemos sim melhorar a ponte entre ciência e divulgação e é por este motivo que eu dedico o meu tempo a este humilde blog. Acho muito importe desenvolver minha tese de doutorado, mas acredito muito na divulgação científica de qualidade. Prefiro em um futuro próximo não ter que "contornar pontos negativos" de materiais em aula.

    Mais uma vez gostaria de agradecer a sua visita ao blog e a leitura minuciosa do post. Aguardo o seu retorno.

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